quarta-feira, 28 de agosto de 2013

FRAÇÃO DO ETERNO / ETERNA ERO




poesia projétil percorre teu dorso
escorre meu verso erétil liberto
de panos e planos
na tela macia do lençol bordado
me queres namorado
te quero assim esguia
mistério indecifrado

minha palavra projeto
meu verso alto te falo
meu sussurro (in)delicado
percorre orelhas e dobras
e dobras assim os joelhos
tua testa me testa e falo
no seu ouvido e falo na sua boca
cilindro lindo te envolve e louca
e me devolves poesia
no teu silêncio mais terno:
- momento que o tempo suga
somente semente - eternos!




Pafaĵ'poem' vian dorson trakuras
erektebla mia vers’ elfluas
libera je drapoj kaj planoj
sur l' mola tol’ de lit-tuk’ brodata
vi min volas koramiko
vin mi volas subtila
mistero nedeĉifrata

mian vorton mi projektu

mian verson alte diru
mia delikata murmuro
trairas orelojn faldojn 
kaj faldas vi la genuojn
min testas la frunto
mi diras faluse
ĉe via orelo kaj buŝo 
cilindro ĉirkaŭas vin 
freneza poezion redonas vi 
per via plej milda silento:
- momento suĉata de l’ tempo
semosperme - ni eternas!

sábado, 24 de agosto de 2013

POEMO JEN NOKTUO BLUA / POEMA UMA CORUJA AZUL EM FUGA






forfuĝas ribele nokto blua
dum poemo skuas ien. kien? 
elfluo bruas brua brue
enue teda noktuo pledas:
nur nokte mi videtas
dum subsune mi blindegas
ho ve! nia vivo min ridigas:
ju pli miaj okuloj malfermetas
des pli misdorme mi dormetas

noktuo do klarigas:
vidinte min oni imagis min simbolo
pri saĝo, klarmenso, eĉ lerteco
ju pli saĝon deziras mia volo
des pli stulte dormemas tia eco

jen do noktuo iĝas mi:
sendorme mi verson persekutas
ĝis kiam poemon oni aŭskultu
- senlume kaj blinde mi baraktas
dum ribele poemo blue skuas...
mi bele tion verke misredaktas
forfuĝe bele-ribele nokto noktue bluas 


********************
POEMA UMA CORUJA AZUL EM FUGA

 


rebelde em fuga a noite azula
o poema ginga e se esvai
no frufru o fluir... pra onde vai?
tédio, coruja, mocho, muxoxo:só à noite vislumbro
e tanto sol me cega

- eta vidinha besta a nossa!

tanto mais olhos semiabertos
mais o cochilar meio desperto
nota de esclarecimento da coruja:
no imaginário humano, símbolo
de mente clara, sabedoria, até esperteza:
quanto mais sabedoria quer
mais estúpido o cochilo na incerteza
quanto de coruja tenho sido!

maldormido um verso persigoaté que um poema se escute
- cego no escuro às apalpadelas
nisso, o poema azul me escapa...redijo esta beleza maltratada
fogem sabedoria, noite, coruja, a Poesia 

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

SAĜO



nekonvinkite pri homa nescio
saĝulon li malsaĝe imitis.
Kormove belinon li invitis
ludi ame.
Amante vere
ili ja saĝiĝis
same.

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segunda-feira, 19 de agosto de 2013

TREZE POEMAS E UMA FUGA

Papos Nascentes recebe 13 poemetos e uma fuga em língua materna nascidos em madrugada torrencialmente produtiva. Aspirantes à amplidão, gostariam mesmo é de serem bilíngues, oscilando do Brasileiro (jeitinho doce de falar Português) ao Esperanto (jeitinho esperto de dar um chega pra lá na barreira das línguas).

A fuga fui encontrá-la escondida debaixo de um temor ao ridículo. Ao me ver, fechou os olhinhos, como fazem as crianças, supondo assim anularem perigos do mundo. A fuga se deu pela crença forte, quem sabe infantil, na minha incapacidade de recriar cada um dos 13 poemetos em Esperanto, já que poemas não se traduzem, mas se recriam de língua para língua, com artimanhas de poeta...

Assim, nasce o tímido pedido. A recriação desses 13 poemetos se faça leve e prazerosa brincadeira de criança. Sem a seriedade pesada do adulto, em geral esmagado por urgências tão inadiáveis quanto desimportantes... Fica o convite à sua criança. Que ela tome pelas mãos o adulto que quer brincar de melhorar o nível de expressão em Esperanto. E só de brincadeira ingressa na equipe de traduto..., digo, de recriadores de poemetos, não importa quantas outras crianças estejam também na ciranda. Ciranda cirandinha vamos todos cirandar!


1.           AMPUTAÇÃO
só o que conta
computo
só se me dispo
disputo
por duas vezes
reputo
e não tem
meu pé me dói:
amputo
puto
e puto!



2.           DOIDO DOÍDO
é doação?
doo
é doeção?
também doo
e a duração?
perdoo?
antes me atordoo



3.           SEM TEMPERO
estive doido
estou doído
(na comunicação
o ruído)
endoideci
adoeci
(na alma
agrura: o roído)
na amargura,
algum milagre?
― to no vinagre!
do fim do ardor
algum sinal?
― to no sal!



4. DUPLAS
a fé e o fel
o amém e o mel
a dor e o odor
(odor do ardor?)
a harpa a carpa
e o arpoador
a farpa e sua escalada
(a escapada e a escarpa)
a cerca e o circo
(e acerca do cisco)
o petiz e o circo:
um petisco!
a marca e o carma
que a carne marca
a busca e o lusco-fusco
o apocalipse
e esta
besta
do após calipso
     eu, besta
     ― e basta!



5.           FULGOR FUGAZ
a folha em banco
          em branco
não passa
― ou é falha!
o poema é o branco
da folha
por trás do trilho
do estribilho
por trás das letras
                 pretas
portais
(do brilho?)



6.           CURTO
três versos
onomásticos
ou no máximo
uni
      verso!



7.           EPA!
o espaço no papel
o tempo insone do poeta
o papel do poeta
o passatempo da insônia
doída da ida
(sem volta?)



8.           NÃO BROMETO NADA
que poemeto
meto
neste canto?
brometo!
suicídio?!
(por cianeto
de potássio)




9.           FINURA
Text
       í
       c
       u
       l
       o
assim
com
pac
to
fura
o
pa
ca
to
cura
o
pe
ca
do?!



10.        DE CIMA
rima
com pés
quebrados
rima
com nada
aí em cima
(essa dor
não fode
nem sai...)



11.        OBRA
na dobra
o poema
se desdobra
e recobra
o tema
(essa lua
macabra!)
comovidos
o diabo
e o conhaque



12.        DOZE?
dose!
me larga!
a vida
é 12
ou amarga?



13.        DESTILAÇÃO DESTILAMENTO
deste lado,
o sofrimento
se faz poesia

destilada,
a poesia
escorre a vida

lado avesso
da vida
é o verso
do verso
do avesso
da vida

avesso
a trocadilho,
apenas converso
a trocar
idílio

destilado
o iso-lamento
deste lamento
deste alimento

desta alimária!

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

VE(R)KIĜO / DESPERTAR

poem' verkiĝas:
'ĝin verkis mi!'
poeto vekiĝas
danke al Poezi'
(vekiĝ' sen kri'!)

- ĉu iluzi'?
- aŭtor malĉeestas
nur Vivo festas
kaj silentas
kvazaŭ Poezi'



poema surge:
'eu escrevi!'
poeta desperta
Poesia urge
(sussurro alerta!)

ilusão seria?
autor ausente
só a Vida (festa)
sorri silente
como a Poesia

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

IDIOMA INTERDITO / IDIOMO INTERDIKTA


no espaço exíguo
o poema do amor à míngua
no espaço contíguo
teu amor na minha língua

     e minha língua no teu dorso
     degusta teu reverso
     e tua língua lambe meu esforço
     e saboreia lenta o sêmen do meu verso

                                                    (In: Sobrevida)

************

en la malgrando spaca
mi ampoeme malsatas
apudloke surfaca
vi amolange lingvatas

     mi langas vin dorse
     gustumas vin reverse
     leko via nerimorse
     glutas mion semoverse


(Esperantigita de Adonis Saliba)

POEMA DO ESCREVER / POEMO DE L' VERKADO


escrevo porque escuro

então clareio

escrevo porque não sei

então nomeio

escrevo porque oculto

na pele da noite

então escavo coço caço

palavra poema imagem

escrevo porque me instigas

com suas leituras

novas torturas do expressar

escrevo porque me cura

a palavra e sua lavra e procura

escrevo porque me inventa

a invenção que teço

e me aconteço

autor do meu dizer disperso

sombra sufocada em cada verso

escrevo enfim porque tô a fim

de surpreender nas possíveis leituras

por que essa libertação

me fazer mais escravo do escrever

     com a fúria do me escavar


Verkas mi pro tiu mallum’
do mi lumas
Verkas mi pro nesci’
do mi nomumas
Verkas mi kaŝite
sub noktohaŭt’
do mi prifosas jukas ĉasas
vorton poemon imagon
Verkas mi pro via instigo
per via legado
al freŝa esprimtorturo
Verkas mi ĉar min kuracas
la verkoserĉa kulturado 
Verkas mi ĉar inventas min
mia teksa inventado
kaj jenas mi
Aŭtoro de mia disa eldiro:
ombro sufokata ĉiuverse
Verkas mi finfine pro la volo
surprizigi dum eblaj legadoj
la kialon de ĉi liberigo
plie min sklavigi
verki verki verki senfine
         per furioza memkavado

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

IMPRESENÇA / MALĈEESTO

mesmo escavado o verso
mesmo o reverso escovado
mesmo o fio do universo
mesmo tendo-me esquivado

mesmo me achando perverso
e não me dando por achado
mesmo que fosse o inverso
mesmo que nem tão inchado

mesmo que toque meu centro
mesmo deixado de fora
mesmo quando mais dentro

mesmo até se fui embora
mesmo quando me concentro
mesmo aqui sou sem agora!

************

Eĉ se kaviĝinta la verso,
eĉ se dorsefrapite,
eĉ se faden'-universo,
eĉ se iele eskapinte,

eĉ se ulo perversa,
eĉ sen kapitulaci’,
eĉ se estus inversa,
eĉ sen inflamo sur mi,

eĉ se la centro tuŝita,
eĉ mem se forlasita,
eĉ mem en hejma kor’

eĉ se irinta for,
eĉ se absorbita,
ĉi sen nun – jen mia kor’!