terça-feira, 31 de março de 2015

TORTA/ TORDA

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TORTA

na secura do gesto pedinte

mendiga árvore semimorta

a gota que lave a paisagem

torta

súplica certa no cerrado corta

o coração fere de morte

a sequidão da horta do horto 

se mais a água se furta

e não se achega no prazo curto

o galho mais torto mais e mais entorta



no meio do surto o milagre à porta

no sereno orvalho o broto brota

com pouco se farta sede tão forte?

se certo se errado o cerrado sorrindo

suga o brilho incerto de cada pingo

e encomenda a torta!

veio chuva farta: a vida se esbalda

e põe roupa de domingo

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TORDA

sekece de gesto petanta

almozas arbo duonmorta

kie la guto pejzaĝon lavonta

torde tordan?

petego savane la koron

tranĉas kaj vundas morte

la sekon de legomejo korta 

se plue akvo forfuĝas

ne alvenante dum tempo kurta

la branĉo plej torda fariĝas plu torda


Lavangomeze miraklo ĉepordas

serene rose burĝone burĝonas

per kiom satas soifego tro forta?

ĉu certe aŭ erare jen savana rideto

suĉas la brilon al necerta guteto

la torton mendante!

pro pluvo abunda vivo festegas

orname dimanĉas

quinta-feira, 26 de março de 2015

ROTA FERIDA/ VUNDITA VOJO

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ROTA FERIDA
No mistério do humano
no húmus agreste
no miolo da rosa
pousa o perfume
da perplexidade
fétida como pássaro
tinto atingido
no ângulo frio
do voo ferido

Minha rota ferida
se altera noturna
se esfuma na ironia
do sorriso monalisa

Resistem mistério
e luz, persistentes
como o instante
que piscou.
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VUNDITA VOJO

En la humana mistero 
en la kruda humo
en la roza kerno
sidas la parfumo 
de l’ mirego
de fetora birdo
farbetrafita
glaci-angule
de l’ vundita flugo

Mia vundita vojo
nokte ŝanĝiĝas
ironie fumdisiĝas
en rideto monaliza

Rezistas mistero
kaj lumo, persistemo
de l' momenta
palpebrumo.

sexta-feira, 6 de março de 2015

LIVRO DAS PERGUNTAS/ LIBRO DE LA DEMANDOJ – PABLO NERUDA

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I

Por qué los inmensos aviones

no se pasean con sus hijos?
 

Cuál es el pájaro amarillo

que llena el nido de limones?
 

Por qué no enseñan a sacar

miel del sol a los helicópteros?
 

Dónde dejó la luna llena

su saco nocturno de harina?


I

Por que os imensos aviões

não passeiam com seus filhos?
 

Qual é o pássaro amarelo

que enche o ninho de limões?
 

Por que não ensinam tirar

mel do sol aos helicópteros?
 

Onde deixou a lua cheia

seu saco noturno de farinha?


I
(Esperantigo de Paulo Nascentes)

Kial la grandegaj aviadiloj

ne promenas kun siaj filoj?


Kiu estas la flava birdo

kiu plenigas la neston per citronoj?


Kial oni ne instruas preni mielon

el suno al la helikopteroj?


Kie lasis la plena luno

sian noktan sakon de faruno?



segunda-feira, 2 de março de 2015

SOLTO O VERBO / LA VERBON MI ELLASAS

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Solto a respiração o verbo se move
se faz vento sopra onde quer
não onde o tirano do meu drama quer

Mais respiro mais piro

piro com o ato puro
do respirar solto
no respirar conspiro
não mais pirata que tanto pilha
mas fica o saque sou o respirar 

que solta o meu pirar...
sou a avareza portuguesa com certeza
sou a doçura da mãe preta
pele escura do mistério
da noite do açoite que me fez dançar
com ginga e dengo de mulherengo
na moringa no quengo pinga e cana
o marafo que eu vai dizer o nome.

o verbo o nome nomeio

isso é bom menino isso é feio
isso foi muito feio! - e o couro come!
e o corpo geme, mas cala!
o açoite dói de vergonha
o corpo se espreme
e num verso sonha
o verso que diz, mas cala
e no que mais cala - fala
o erudito pelo não dito
a letra que esmaga o espírito
o espírito que tira de letra
se respira 
          ... e solta o verbo!
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Spiro liberiĝas la verbo moviĝas
ĝi vento fariĝas libere blovanta
ne kie volas la tirano
de mia dramo.

Ju plia spiro des plia spiralĝiro
frenezo pro l’ ago nura
de l’ loza spiro
dum la spiro konspiro
ne plu pirato tiom rabanta
sed ekvidiĝo estanta:
jen mi la liberiga spiro
de mia spirala ĝiro...
jen mi la portugala avareco kun certeco
jen mi la dolĉeco de nigra patrin’
nigra haŭto de l’ nokta mister’
de l’ skurĝo danciganta min
per afektema svingo de donĵuan’
alkaraze enkape kaŝaco kanbrand’
la sennoma kaŝaco kaŝota.

La verbon la nomon mi nomu
tio bonas, knab’, tio malbonas
tio ja malbonegas – plu venas batado!

la korpo ĝemas silente
la skurĝo hontige doloras
la korpo prem-torde sintordas
verso venanta eksonĝas
la verso ekdire silentas
ju pli ĝi silentas – des pli jen diranta
erudicio malpermesatas
la spirito litere prematas
la spirito libera finfine
se ĝi spire
          ... la verbon ellasas!