sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

SELVAGERIA/ SOVAĜECO


 

     SELVAGERIA

como o poema não veio

suas vírgulas assassinas

unhas escavadeiras

nessa noite do aperreio

sulcam na pele o veio

de linfa apócrifa

gosma de soslaio

 

o amanhecer não veio

mas promete de entremeio

a pele onde a dor mina

esfolada indefesa

e já sofrida

nessa noite do aperreio

sem brida ou freio


se se dispuser a vir

o poema distorcido

a que leitor estarrecido

servirá nessa noite

do aperreio de linfa de gosma

quem sabe até chorume?

 

pode o poema até nem vir

ou bêbado chegar

por ter sido despedido

na noite apócrifa

do aperreio ensandecido

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     SOVAĜECO

ĉar la poemo ne venis

ĝiaj murdantaj komoj

fosmaŝinaj ungoj

dum tiu nokto de sufer’

surhaŭte vejnon fosas

de apokrifa limfo

     de oblikva muko

 

la tagvekiĝo ne venis

sed intermikse promesas

haŭton kie dolor’ ŝprucas

sendefenda skrap-vunda

kaj precipe suferanta

dum tiu nokto de sufer’

sen brido aŭ bremso


se sindisponi veni

la distorda poemo

al kiu mirega leganto

servos ĉinokte de sufer’

de limfo de muko

eĉ de grasa sterk’?

 

 

povas la poem’ ne veni

aŭ tute ebria veni

estante maldungita

en nokto apokrifa

de frenezega sufer’

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

ERRATA/ ERATUMO



ERRATA

a minha faceta gota

navega sem rota ou plano

mas o que são plano e rota

na imensidão do Oceano?

rota, plano - só medida

no mundo processual

na real Oceano é Vida:

sem começo e sem final


apenas falso dilema

cada gota é o Oceano

o Oceano: “sem problema!

Eu Sou a rota que emano!”

Se chamar Isto de Ser

nem por isso fico aflito

Não é substantivo - o Ser

Ser é Verbo no Infinito?



ERATUMO

mia facet’ ia guto

navigas sen kurso aŭ plan’

sed kio estas plan’ aŭ kurso?

nemezurebla Ocean’?

kurso, plano - nur mezur’

mondo tia pilgrim'

fakte Ocean’ estas Vivo:

sen komenco nek fin'


estas nur falsa dilemo

ĉiu gut’ jen Ocean’

laŭ Ocean’: “sen problem’

Mi Estas la kurs’ elfluanta”

se Tio nomiĝas Esto

ne estas por mi ĉagren’ 

neniel Tio estu nomo

ĉu I-Verbo por Eden'


segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

QUEM SOU? / KIU MI ESTAS?

 


QUEM SOU?


Eu sou o mistério

da pergunta-resposta

que em mim cintila

 

Eu sou o mistério

da resposta provisória

a cintilar em nova pergunta

 

Eu sou o mistério provisório

do Ser eterno

que no existir cintilo

 

Eu sou o mistério

do cintilar provisório

no mar eterno

do inconsciente

emergente do Si mesmo

 

Eu sou o mistério

de não ser o eu pessoal

sendo ainda assim

o mistério da Totalidade:

o Si mesmo.

 

Eu sou mesmo

o mistério em Si mesmo. 


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KIU MI ESTAS?

Mi estas la mistero
de la demando-respondo
kiu en mi trem-brilas
 
Mi estas la mistero
de la provizora respondo
trem-brile al nova demando
 
Mi estas la
provizora mistero
de eterna Estulo
dum ekzista trem-brilo
 
Mi estas la mistero
de la provizora trem-brilo
en la eterna maro
de la emerĝanta 
nekonscienco de Si mem
 
Mi estas la mistero
ne esti la persona mio
estante tamen la mister'
de la Tuteco: Si mem
 
Mi estas la mistero mem
en Si mem.

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

GAIVOTA/ MEVO

 


GAIVOTA

Da partitura da tradição

o voo solo da ruptura

pura transgressão

criatividade no mergulho 

até o peixe da ousadia

a gaivota ao bando volta

no retorno espanto encanto:

visão nova se atreve

à vida leve

à mão amiga 

que oferta o grão suave

a liberdade o voo

o ousado pouso

na simbologia

― pássaro amor ave.


 

MEVO

de partituro tradicia

la solo-flugo de l’ rompaĵo

mergado vera malobeo

kreaĵo ĝis la maltima fiŝo 

la mevo al la rot’

revenas revene

mirego ia sorĉo:

vizio nova aŭdacas

al leĝera vivo

amika mano al donaco

de facila grano

libereco flugo

aŭdaca eksido

sur simbologio

― amo migranta birdo.

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

EU FATIADO/ MI TRANĈITA


EU FATIADO

misto de inquietude e coceira

minha pele, labaredas, palha seca

sono ausente sabe a abandono

na pele o choro que nos olhos falha

sou todos os incêndios na crosta de Gaia

já que não durmo

em poesias me consumo

a poesia ardente da dor me consome

e coço forte e coço rude

o sol lá fora me ameaça o dia

em que a pele não ardia

algo em mim espera que eu mude

mas a mudança só se coça

ela mesma se afasta se adia

a vida sai pra comprar pão:

fico com migalhas do que já foi fatia!


MI TRANĈITA


miksaĵo de malkvieto kaj juko

mia haŭto flamas, seka pajlo

forestanta dormo scias sin forlaso

sur-haŭta ploro kiu sur-okule mankas

estas mi ĉiuj bruloj sur la Gea krusto

ĉar mi ne dormas, poezie mi min konsumas

la arda poezio de doloro min konsumas

kaj forte mi jukas kaj krude mi jukas

ekstere mian tagon minacas Suno

kiam mia haŭto ne brulos plu

io ĉe mi esperas, ke mi ŝanĝiĝu

sed la ŝanĝo mem nur jukas

prokrastas foriras

por pan-aĉeto mia vivo foriras:

restas al mi paneroj

kie antaŭe estis pan-tranĉo!


terça-feira, 8 de novembro de 2022

AGORA/ NUNO

 


AGORA

troco chronos por kairós
e ainda fico com troco:
sou sem antes sem após
vivo agora sem sufoco

kairós é fruir o agora
sem tempo sequenciado
jogado o relógio fora
sai futuro sai passado

e habita na memória
lâmina quântica espaço
corta o fio da história

do espaço me contemplo
essa faísca ilusória
sem pressa sem tempo: templo


NUNO

anstataŭ kronos', kairos'
eĉ groŝon konservas mi:
nek antaŭe nek post'
sensufoke vivas mi  
 
kairós' - jen ĝua profit'
tempopaŝo finiĝinta 
horloĝ' fine forĵetita
onto into foririnta

nun surmemore loĝanta
kvantuma kling', spac'
histori-faden' rompanta

el spaco jen kontemplo:
jen mi iluzia spark'
sen-hasta, sentempa: templo

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

RETROESCAVADEIRA/ RETROŜOVEL-MAŜINO

               


         

       RETROESCAVADEIRA

lúcida consulta no começo

no final Zea mays na receita

no meio a mirada poética no tempo:

mistério que nos enfeitiça

feitiço que nos atravessa

escombro e sombra!


cinco glóbulos na manhã jejum

-- poema mítico: tempo? --

me trazem chronos habitual

agora kairós adventício 


após a ingesta kairós predomina

mostra o mapa da mina:

atenção no percurso 

ou progresso ou às avessas 

além da “passagem do meio”

a paisagem o destino

(nome dado à metanoia):

importa é sorver o rumo

        por que mesmo escavadeira?



RETROŜOVEL-MAŜINO


lucida konsult' dekomence

fine la recept' Zea mays 

meze pri-tempa poezia rigardo:

mistero nin sorĉanta

ensorĉo nin trapasanta

ruino, ruino kaj ombro!


kvin globetoj faste matene 

-- mita poemo: ĉu tempo? --

kutima khronos envenanta

nun kairós okazanta


post ingest' regnas kairós 

mostranta pli bonan vojon:

atentu ni la vojiron 

ĉu progreso ĉu kontraŭo 

krom la “meza transiro”

kaj pejzaĝo kaj destin’

(tiel nomata metanojo):

gravas la direkton trinketi

        sed kial retroŝovel-maŝin’?