sábado, março 17, 2012
HISTORINHA INFANTIL
pinto peru passarinho
queriam ver perereca
mas esta muito sapeca
apertava o passarinho
e quanto mais apertava
mais gluglu peru fazia
pinto a cabeça esticava
e passarinho cantava
a mais linda melodia
perereca bem no fundo
gostava daquele trio:
vinha um suspiro profundo
na pele um bruta arrepio
perereca arrepiada
faz que pinto enterneça
peru bêbado olhava
pinto encostava a cabeça
no ombro da perereca
que beijava passarinho
o tempo ficando quente
a perereca suada
pede ao peru um golinho
daquela bebida encantada
- brincadeira assim tão boa
alegra o meu coração!
o pinto cabeça erguida
tinha virado pintão
perereca comovida
celebrou a união!
AGUARDANDO RESGATE
há uma luz aguardando resgate
e só você poderá fazê-lo
escondida como se num mundo à parte
aguarda tua ação amor e zelo
a luz desceu fundo nas camadas do teu corpo
e envia sinais e sintomas, hematoma e pus,
como se o espelho refletindo torto
viesse te lembrar: 'eu mesmo ali a pus'
fui soterrando e empurrando mais pra dentro
cristalizando numa dura crosta
mantendo-a separada e esquecida
cansado de sofrer regresso ao lar e ao centro
encontro alguma pérola onde só era ostra
e a luz reencontrada diz seu nome: vida!
e só você poderá fazê-lo
escondida como se num mundo à parte
aguarda tua ação amor e zelo
a luz desceu fundo nas camadas do teu corpo
e envia sinais e sintomas, hematoma e pus,
como se o espelho refletindo torto
viesse te lembrar: 'eu mesmo ali a pus'
fui soterrando e empurrando mais pra dentro
cristalizando numa dura crosta
mantendo-a separada e esquecida
cansado de sofrer regresso ao lar e ao centro
encontro alguma pérola onde só era ostra
e a luz reencontrada diz seu nome: vida!
MUIPO-OPIUM
muipo se olhava no espelho
não pra ajeitar os cabelos
queria jogar luz nos tornozelos
do ultravioleta ao infravermelho
mesmo tendo cheiro de jasmim
na papoula muipo tinha origem
devolvia enfim à pele seu cetim
alivia antigos males que a afligem
força do centro enfim se recobrava
e a luz central tímida brilhava
revigorando o que antes era ócio
do vício renascia para o viço
o desleixo transmutava-se em serviço:
começava a agir dinamizado o ópio?
não pra ajeitar os cabelos
queria jogar luz nos tornozelos
do ultravioleta ao infravermelho
mesmo tendo cheiro de jasmim
na papoula muipo tinha origem
devolvia enfim à pele seu cetim
alivia antigos males que a afligem
força do centro enfim se recobrava
e a luz central tímida brilhava
revigorando o que antes era ócio
do vício renascia para o viço
o desleixo transmutava-se em serviço:
começava a agir dinamizado o ópio?
SACANINHA
esquivo e safo
meu texto silencia não o grito, a dor:
e tangencia o ponto
fingindo-se abrangência
o texto se distancia
e se desvia da emergência
na hora da verdade
e se esquiva e se evade
e na fuga
largando sinais e pistas
espalha falsas palavras
semeia sinais trocados
mostra indícios camuflados
meu poema instaura círculos
e finge voltar ao início:
- meu texto é safo e safado!
meu texto silencia não o grito, a dor:
e tangencia o ponto
fingindo-se abrangência
o texto se distancia
e se desvia da emergência
na hora da verdade
e se esquiva e se evade
e na fuga
largando sinais e pistas
espalha falsas palavras
semeia sinais trocados
mostra indícios camuflados
meu poema instaura círculos
e finge voltar ao início:
- meu texto é safo e safado!
COM PAIXÃO EM TI
poesia antiga como o tempo
jorra antiga luz só pressentida
nos vislumbres que contemplo
no templo da alma adormecida
a luz na palavra e no exemplo
atravessa a sombra enegrecida
vergasta vendilhões no templo
e restaura a perfeição perdida
vence a caveira no alto calvário
acessa a luz e a verdade ensina
oferece ao beijo e ao tapa a outra face
cristifica-se na cruz solidário
expira e renovado ilumina:
mesmo sem ter morrido em quem renasce?
jorra antiga luz só pressentida
nos vislumbres que contemplo
no templo da alma adormecida
a luz na palavra e no exemplo
atravessa a sombra enegrecida
vergasta vendilhões no templo
e restaura a perfeição perdida
vence a caveira no alto calvário
acessa a luz e a verdade ensina
oferece ao beijo e ao tapa a outra face
cristifica-se na cruz solidário
expira e renovado ilumina:
mesmo sem ter morrido em quem renasce?
LUTAR COM PALAVRAS
lutar com palavras é a luta mais vã
lá vem fogaréu lá vem labareda
prepara caneta pincel ou carvão
o alvo da seta, o teu coração
a seta, poema e leva carinho:
pássaro sem pena sem pouso sem ninho
o poema só acerta se me leva as penas:
só a duras penas que se é poeta
no poema lido a seta o ar o alvo
chego combalido chego são e salvo:
meio desnutrido desdentado e calvo
prefiro essa luta ao tal do divã
não fosse o poema de amasso com a musa
a mão boba na blusa... e eu já tava tantã!
ESCULTURA NO PAPEL
essa pouca cinza fria
(como dizia o Bandeira)
já foi brasa de fogueira
e esfolava e ardia
cinza é cor e cinza é pó
mas cinza vira cinzel
escultura no papel
acorde todo de dó
o poeta vê em si
a dor que sabe ser sua
e como um ator atua
revelando o que há em ti
tu finges não perceber
o aroma que te perfuma:
o que estava a te doer
dói em mim - que a dor é uma
mas a dor em fogo brando
já derrete é cinza fria
fica o longe te lembrando:
a dor que nos consumia
lá se foi pra não-sei-quando
quando virou poesia...
(como dizia o Bandeira)
já foi brasa de fogueira
e esfolava e ardia
cinza é cor e cinza é pó
mas cinza vira cinzel
escultura no papel
acorde todo de dó
o poeta vê em si
a dor que sabe ser sua
e como um ator atua
revelando o que há em ti
tu finges não perceber
o aroma que te perfuma:
o que estava a te doer
dói em mim - que a dor é uma
mas a dor em fogo brando
já derrete é cinza fria
fica o longe te lembrando:
a dor que nos consumia
lá se foi pra não-sei-quando
quando virou poesia...
CUMPLICIDADE
de qualquer pouco de tinta
em qualquer espaço branco
escrevo e vejo o que pinta:
por mais que minta sou franco!
não que não diga o que sinta
não que não tenha um espanto
por mais que a verdade minta
mais dúvida ao leitor arranco
quanto mais ponha verdade
e diga tudo o que sinto
mais dúvida o leitor sente
ficção é inverdade?
o leitor sabe que minto!
se não sabe, ele é quem mente!
em qualquer espaço branco
escrevo e vejo o que pinta:
por mais que minta sou franco!
não que não diga o que sinta
não que não tenha um espanto
por mais que a verdade minta
mais dúvida ao leitor arranco
quanto mais ponha verdade
e diga tudo o que sinto
mais dúvida o leitor sente
ficção é inverdade?
o leitor sabe que minto!
se não sabe, ele é quem mente!
HORA DE DORMIR?
hora de dormir? então me deito me ajeito
me agito me agito levanto e faço xixi
hora de dormir? então hora de dor
hora de me agitar mijar mijar mugir
hora de dormir? então hora de vulcão
de coceiras de crateras de lavas de erupção
hora de dormir? de escavar de escrever
de coçar de esculpir de cuspir o poema fujão
hora de dormir hora de domar
o insabido desejo de voar
enfim sós alma inquieta
só mais um xixi...
te libero enfim, poeta!
hora de dormir! dormir! dormir!
me agito me agito levanto e faço xixi
hora de dormir? então hora de dor
hora de me agitar mijar mijar mugir
hora de dormir? então hora de vulcão
de coceiras de crateras de lavas de erupção
hora de dormir? de escavar de escrever
de coçar de esculpir de cuspir o poema fujão
hora de dormir hora de domar
o insabido desejo de voar
enfim sós alma inquieta
só mais um xixi...
te libero enfim, poeta!
hora de dormir! dormir! dormir!
DE LÍNGUA
a língua mostra a cara: não mostra o quanto esconde
o quanto ela mascara nem o quanto ela responde
a língua é maquiagem e camufla o pensamento
às vezes diz que é aragem quando sopra forte o vento
de neutra ela não tem nada: a língua a gente insufla
e quando se dá por achada é quando muito mais camufla
a língua de cabeça fria apronta cada maldade:
veste linda a ideologia como se fosse a verdade
na poesia ela encanta: canção melodia arpejo
se encontra outra no beijo a vida mesma se encanta
expande a chama o ardor sobe tudo se levanta
já tens amada o vigor do meu amor ereto
o beijo dela responde: logo logo te aquieto!
e a língua me invade a alma e nos acolhe na calma!
o quanto ela mascara nem o quanto ela responde
a língua é maquiagem e camufla o pensamento
às vezes diz que é aragem quando sopra forte o vento
de neutra ela não tem nada: a língua a gente insufla
e quando se dá por achada é quando muito mais camufla
a língua de cabeça fria apronta cada maldade:
veste linda a ideologia como se fosse a verdade
na poesia ela encanta: canção melodia arpejo
se encontra outra no beijo a vida mesma se encanta
expande a chama o ardor sobe tudo se levanta
já tens amada o vigor do meu amor ereto
o beijo dela responde: logo logo te aquieto!
e a língua me invade a alma e nos acolhe na calma!
POSSE CARNAL
agora já na quarta folha
o poema faz beicinho...
o poeta tem escolha?
ou já tá bem caidinho?
às veze com saca-rolha
às vezes só com jeitinho
voa ao céu como uma bolha
de sabão meu... poeminho
rima se pode ajeitar
métrica deixa pra lá
o que vale é o conteúdo
bem casadinho com o ritmo
dele é preciso ser íntimo:
- vai que é tua vai com tudo!
o poema faz beicinho...
o poeta tem escolha?
ou já tá bem caidinho?
às veze com saca-rolha
às vezes só com jeitinho
voa ao céu como uma bolha
de sabão meu... poeminho
rima se pode ajeitar
métrica deixa pra lá
o que vale é o conteúdo
bem casadinho com o ritmo
dele é preciso ser íntimo:
- vai que é tua vai com tudo!
TRANSMUTA AÇÃO
poemas vêm não sei de onde
e atormentam como quê
sob a pele algum se esconde
e vai quem sabe aparecer
poesia é fio que não responde
e tenta ludibriar você:
se é leitor perdeu o bonde
se poeta só quer entender
o mistério assim continua:
o tema como a mulher nua
esconde-mostra seu tesouro
o que resulta é pura alquimia:
no cadinho da poesia
meu teu chumbo se faz ouro
e atormentam como quê
sob a pele algum se esconde
e vai quem sabe aparecer
poesia é fio que não responde
e tenta ludibriar você:
se é leitor perdeu o bonde
se poeta só quer entender
o mistério assim continua:
o tema como a mulher nua
esconde-mostra seu tesouro
o que resulta é pura alquimia:
no cadinho da poesia
meu teu chumbo se faz ouro
HIPOCRISIA
amar algum cabe todo no poema
mesmo que o amor seja todo poesia
que peixe pode escapar à piracema?
que lei me traz o choro quando mais sorria?
que leito não suporta o rio que corria?
que força traz o mote o mesmo tema?
que solução de mim sempre fugia
por mais que sempre e sempre o tal poema?
por que tão feliz mesmo no sofrimento?
por que por mais feliz alguma dor?
e a alegria nesse meu lamento?
e a imensa magia em meio a tanto horror?
e a anestesia o torpor o fingimento?
por que fingir ser tão perguntador?
mesmo que o amor seja todo poesia
que peixe pode escapar à piracema?
que lei me traz o choro quando mais sorria?
que leito não suporta o rio que corria?
que força traz o mote o mesmo tema?
que solução de mim sempre fugia
por mais que sempre e sempre o tal poema?
por que tão feliz mesmo no sofrimento?
por que por mais feliz alguma dor?
e a alegria nesse meu lamento?
e a imensa magia em meio a tanto horror?
e a anestesia o torpor o fingimento?
por que fingir ser tão perguntador?
PALAVRA PERDIDA
suspeito que o soneto agora venha
com a força motriz de uma enxurrada
desmorona o que em mim já não contenho
aos solavancos despenco em disparada
a equipe de resgate exige senha
sem a qual já não pode fazer nada:
um certo desespero se desenha
mas justo a senha vejo desenhada
alguma instância no meu coração
enxerga sem mistério e sem segredo
o que em silêncio tagarela a vida:
o amor essa forma de canção
inunda tudo e desbarranca o medo
soterrando a Palavra assim Perdida...
com a força motriz de uma enxurrada
desmorona o que em mim já não contenho
aos solavancos despenco em disparada
a equipe de resgate exige senha
sem a qual já não pode fazer nada:
um certo desespero se desenha
mas justo a senha vejo desenhada
alguma instância no meu coração
enxerga sem mistério e sem segredo
o que em silêncio tagarela a vida:
o amor essa forma de canção
inunda tudo e desbarranca o medo
soterrando a Palavra assim Perdida...
SIMBIOSE
fabrico meu próprio espaço
num canto que contagia
e meu próprio tempo traço
no compasso da poesia
simulo esforço e fracasso
fingido que se exauria
a fonte em que me renasço
- mergulho que não se adia
recolho no teu regaço
de amada que me sacia
o mote a palavra o laço
a algema que me alforria
o soneto é puro abraço
se nos faço Poesia
num canto que contagia
e meu próprio tempo traço
no compasso da poesia
simulo esforço e fracasso
fingido que se exauria
a fonte em que me renasço
- mergulho que não se adia
recolho no teu regaço
de amada que me sacia
o mote a palavra o laço
a algema que me alforria
o soneto é puro abraço
se nos faço Poesia
ASCENSÃO
que lições
depositam
tua ausência?
que traços
curvam
teus espaços
abraços tão espessos?
que carícia
te lascívia
que frecor te acende?
que incenso
teu calor suspira
e me ascende
acende
ascende?
depositam
tua ausência?
que traços
curvam
teus espaços
abraços tão espessos?
que carícia
te lascívia
que frecor te acende?
que incenso
teu calor suspira
e me ascende
acende
ascende?
NOVES FLORAS
que orvalho
te germina
e nos irmana?
que arrepio
timidez
quando me dás?
que colheita
se perfaz
quando se deita
em nós
o laço dos teus pêlos
elos?
atropelos?
mais? melhor?
que pistilo
te instilo
se tu flores?
se ficares
novos ares!
cores!
te germina
e nos irmana?
que arrepio
timidez
quando me dás?
que colheita
se perfaz
quando se deita
em nós
o laço dos teus pêlos
elos?
atropelos?
mais? melhor?
que pistilo
te instilo
se tu flores?
se ficares
novos ares!
cores!
PERSEGUIÇÃO E FUGA
ensaio o texto que se esquiva
que se esvai:
água derramada causa perdida
meu fôlego indomado é o que resta
em surdina ensaio o gemido
da angústia na pele engastada
tornada rubi rubor desmedido
calor desastrado queimando carícias
absurdamente engavetadas
feito poemas contrafeitos
o poema ensaio em tentativa crônica...
aguda a tentação se faz novela
inacabada
se o poema não passa de ensaio
rabinho entre as pernas
de fininho saio!
que se esvai:
água derramada causa perdida
meu fôlego indomado é o que resta
em surdina ensaio o gemido
da angústia na pele engastada
tornada rubi rubor desmedido
calor desastrado queimando carícias
absurdamente engavetadas
feito poemas contrafeitos
o poema ensaio em tentativa crônica...
aguda a tentação se faz novela
inacabada
se o poema não passa de ensaio
rabinho entre as pernas
de fininho saio!
CONFLITO
pode o amor mais que qualquer segredo
disfarçar-se de medo - não me iludo
o amor pode isto - e pode tudo
e mesmo disfarçado é o antimedo
o amo sem disfarce é confiança
o poder sorridente da alegira
na lágrima no brilho que escorria
a certeza na incerteza sua herança
se o amor vem de medo disfarçado
seu contato sem querer evito
e fico olhando assim meio de lado
modulando o terror desse teu grito
melodia de tom desencontrado
quer por que quer levar meu infinito
disfarçar-se de medo - não me iludo
o amor pode isto - e pode tudo
e mesmo disfarçado é o antimedo
o amo sem disfarce é confiança
o poder sorridente da alegira
na lágrima no brilho que escorria
a certeza na incerteza sua herança
se o amor vem de medo disfarçado
seu contato sem querer evito
e fico olhando assim meio de lado
modulando o terror desse teu grito
melodia de tom desencontrado
quer por que quer levar meu infinito
LAÇO MEIO LASSO
num outro poema faço
um laço das cordas da lira
e das cordas vocais o abraço
feito laço já delira:
se o laço o presente enfeita
meu coração já te dou e te dei
meu coração, você me aceita?
com o teu já me acertei
e nem preciso de laço
pois já bate no compasso
na cadência que sonhei
um laço das cordas da lira
e das cordas vocais o abraço
feito laço já delira:
se o laço o presente enfeita
meu coração já te dou e te dei
meu coração, você me aceita?
com o teu já me acertei
e nem preciso de laço
pois já bate no compasso
na cadência que sonhei
BERROS EM VÃO
aos berros e em vão
poema exige audição:
audiência impõe a indecência
da desatenção
no bar
ouvidos semibêbados
só querem tagarelar
tímido o poema se recolhe
em seu recato
tenta digerir o desacato
mas no ato
o vexame não evita:
mantém-se quieto e sóbrio
- mas vomita!
poema exige audição:
audiência impõe a indecência
da desatenção
no bar
ouvidos semibêbados
só querem tagarelar
tímido o poema se recolhe
em seu recato
tenta digerir o desacato
mas no ato
o vexame não evita:
mantém-se quieto e sóbrio
- mas vomita!
GANA DOS VENDAVAIS
por que você não me ama?
anseia a amada por mais
do que esse peito reclama?
dos poemas que não me faz!
o diálogo na cama
nossa chama acende mais
e o fogo devora a grama
na gana dos vendavais...
cada dia mais e mais
além do que sou capaz
com você me comprometo
volte um pouquinho atrás
releia aquilo que jaz
por trás do pífio soneto!
anseia a amada por mais
do que esse peito reclama?
dos poemas que não me faz!
o diálogo na cama
nossa chama acende mais
e o fogo devora a grama
na gana dos vendavais...
cada dia mais e mais
além do que sou capaz
com você me comprometo
volte um pouquinho atrás
releia aquilo que jaz
por trás do pífio soneto!
AH SALTO QUÂNTICO
(aos cinco sujeitos armados e sem convite
que entraram na minha casa)
uma frase esfarrapada boia
impossível ter-me eu escrito
com as tintas da paranoia
quanto escrevo é alma é grito
ter sido logrado em troia
ter sido largado aflito
em terra que não me apoia
mas na ânsia de infinito
setas lanço contra o Alto
e assim muito mais dói a
dor que minto e engasgo o grito
esfarrapado: - isto é um assalto!
e me respondo: - é metanoia!
ABANDONO
a tosse a dor a coriza
o malestar na garganta
cada sintoma avisa
contra a gripe o que adianta?
o jeito é ficar de molho
o jeito é ficar de cama
já fica vermelho o olho
fica a amada de pijama
à noitinha um alvoroço
e toca a fazer cafuné
e massagem no pescoço
massagem boa no pé
depois da massagem o sono
vem aquela paz enorme
ela dorme e eu não durmo
quisera a paz o abandono
com que minha amada dorme
- mas meu sono perde o rumo
o malestar na garganta
cada sintoma avisa
contra a gripe o que adianta?
o jeito é ficar de molho
o jeito é ficar de cama
já fica vermelho o olho
fica a amada de pijama
à noitinha um alvoroço
e toca a fazer cafuné
e massagem no pescoço
massagem boa no pé
depois da massagem o sono
vem aquela paz enorme
ela dorme e eu não durmo
quisera a paz o abandono
com que minha amada dorme
- mas meu sono perde o rumo
BODAS DE OURO (ALQUÍMICO)
meio século de convívio
com um não-sei-bem-o-quê
muito pouco de alívio
muito muito de sofrer
cinquenta anos: enganos
desenganos reenganos
a dor por mestre implacável
o mal dito incurável
debocha das medicinas
- dor sem remédio e sem tédio
dor que dói e que azucrina
posso sentir na pele
ardor sem pé nem cabeça
ou secura que revele
tudo o que eu já não conheça:
noites com sono ausente
afogadas num edema
se transformam de repente
num bom mote de poema
a pele e sua escritura
são o papel e a pena
que registram a tortura
da poesia no poema
alopatia isopatia
homeopatia o teu pra sogra
mesmo a naturopatia
fica tudo a mesma droga
que a coceira vem vermelha
ora empola ora arrepia
isto até já se sabia...
em que a dor se assemelha
com a flor da poesia?
com um não-sei-bem-o-quê
muito pouco de alívio
muito muito de sofrer
cinquenta anos: enganos
desenganos reenganos
a dor por mestre implacável
o mal dito incurável
debocha das medicinas
- dor sem remédio e sem tédio
dor que dói e que azucrina
posso sentir na pele
ardor sem pé nem cabeça
ou secura que revele
tudo o que eu já não conheça:
noites com sono ausente
afogadas num edema
se transformam de repente
num bom mote de poema
a pele e sua escritura
são o papel e a pena
que registram a tortura
da poesia no poema
alopatia isopatia
homeopatia o teu pra sogra
mesmo a naturopatia
fica tudo a mesma droga
que a coceira vem vermelha
ora empola ora arrepia
isto até já se sabia...
em que a dor se assemelha
com a flor da poesia?
SOLSTÍCIO DE DEZEMBRO DE 2012
mal levanto o véu de maia
um rosto de profecia aparece
um tempo-limite se oferece
e a oferenda toca a deusa, que desmaia
seu desmaio lucidez de oferenda
transe que os mistérios desvenda
e fascina a face da simplicidade
e ilumina o tempo se o contemplo
com olhos de transe, desfocado
maia revela a unidade circular das eras
e a claridade ofusca os luminares
acadêmicos repletos de quimeras
e acirra seus disputares
e os calcina na fogueira das vaidades
2012 já nos mirde os calcanhares:
hecatombe? apocalipse? catástrofe?
- nova consciência e nova humanidade!
um rosto de profecia aparece
um tempo-limite se oferece
e a oferenda toca a deusa, que desmaia
seu desmaio lucidez de oferenda
transe que os mistérios desvenda
e fascina a face da simplicidade
e ilumina o tempo se o contemplo
com olhos de transe, desfocado
maia revela a unidade circular das eras
e a claridade ofusca os luminares
acadêmicos repletos de quimeras
e acirra seus disputares
e os calcina na fogueira das vaidades
2012 já nos mirde os calcanhares:
hecatombe? apocalipse? catástrofe?
- nova consciência e nova humanidade!
BIS COITO DOCE
naquela madrugada insone
em cada poro o amor fluía
em cada pêlo a pele já sorria
saciadas já a sede e a fome
cegos nós cegos nós já fomos
naquelas noites já virando dia
devassa a luz se comovia
e nos movia pra dentro do sono
mas, de dentro um sol se impunha
envergonhado tímido perplexo
se irradiava do coração à unha
você e eu mais vivos reconexos
flutuando sétimas alturas
ressucitando gentis os nossos sexos
em cada poro o amor fluía
em cada pêlo a pele já sorria
saciadas já a sede e a fome
cegos nós cegos nós já fomos
naquelas noites já virando dia
devassa a luz se comovia
e nos movia pra dentro do sono
mas, de dentro um sol se impunha
envergonhado tímido perplexo
se irradiava do coração à unha
você e eu mais vivos reconexos
flutuando sétimas alturas
ressucitando gentis os nossos sexos
VÉU DA PROFECIA ou TUDO É MAIA
aos deuses, mesmo etílicos,
pedi que o tempo se contraia
e aceite o beijo do profeta
no intelectual cheio de pose...
piedade pedi para o poeta
ao descompactar o arquivo
- sem qualquer aviso -
do ano dois mil e doze
resultado: uma lacraia
roeu-me a roupa e o véu de maia.
pedi que o tempo se contraia
e aceite o beijo do profeta
no intelectual cheio de pose...
piedade pedi para o poeta
ao descompactar o arquivo
- sem qualquer aviso -
do ano dois mil e doze
resultado: uma lacraia
roeu-me a roupa e o véu de maia.
NAUFRÁGIO SIDERAL
Sinto-me hoje um náufrago sideral, tendo dado com os costados na ilha do meu isolamento (temporário?).
Trago em mim um rádio de ampla potência e a enorme esperança de restaurar-lhe o poder de sintonia milenar, recém-perdido pela ferrugem mental do desuso.
Trabalho humilde e silencioso, por maneira experimental, nos centros psíquicos do aparelho, limpando, calibrando, redirigindo energias, segundo secretíssimo esquema arcano.
Não me perguntem o porquê, mas registro interiormente cores, imagens, sons que anunciam a Luz de uma Aurora inadiável.
Afinal, pássaros voam e isto é tudo!
Trago em mim um rádio de ampla potência e a enorme esperança de restaurar-lhe o poder de sintonia milenar, recém-perdido pela ferrugem mental do desuso.
Trabalho humilde e silencioso, por maneira experimental, nos centros psíquicos do aparelho, limpando, calibrando, redirigindo energias, segundo secretíssimo esquema arcano.
Não me perguntem o porquê, mas registro interiormente cores, imagens, sons que anunciam a Luz de uma Aurora inadiável.
Afinal, pássaros voam e isto é tudo!
POETA SUCUMBE À POESIA
macho: sadio
aliança esquerda ostensiva
no dedo ágil
mas pacato
fêmea: saudável
escamoteadas inúmeras alianças
fala macia seminaudível
audissoprado convite
ao pecado
recusa polida
embora incêndios fúrias e febres
insistência que aflige
a mais santa abstinência
... e, afinal,
noblesse oblige!
aliança esquerda ostensiva
no dedo ágil
mas pacato
fêmea: saudável
escamoteadas inúmeras alianças
fala macia seminaudível
audissoprado convite
ao pecado
recusa polida
embora incêndios fúrias e febres
insistência que aflige
a mais santa abstinência
... e, afinal,
noblesse oblige!
A DÍVIDA
deixei a porta da casa
inteiramente arregalhada
esperando a volúvel poesia
ela chegou porque inexiste o acaso
e desgrenhada e desdentada e suja
tinha nos braços a criança magra
pediu-me pão e leite e afago
e saiu com meio litro e uma bisnaga
- ficou-me a sobra: lodo e engasgo.
inteiramente arregalhada
esperando a volúvel poesia
ela chegou porque inexiste o acaso
e desgrenhada e desdentada e suja
tinha nos braços a criança magra
pediu-me pão e leite e afago
e saiu com meio litro e uma bisnaga
- ficou-me a sobra: lodo e engasgo.
ISTO FAZ UM BEM!
(para os pixotes da silva)
meu poema foi recolhido
tá encolhido no xadrez:
cheirava coca
cheirava cola
na praça da sé.
meu poema é dimenor
no chafariz tomou banho
num otário fez um ganho
meu poema deu no pé!
agora está recolhido
no fundo da funabem*
na funabem servem coca
cola não sei se tem
meu poema tá magrinho
ossinho como ele só!
barrigão de verminose
sonha sonhos de overdose
poema, te sei de cor,
poeminha dimenor!
* Em 1° de dezembro de 1964, durante a ditadura militar brasileira, foi criada a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM), órgão normativo que tem/tinha a finalidade de criar e implementar a "política nacional de bem-estar do menor", através da elaboração de "diretrizes políticas e técnicas".
quinta-feira, março 15, 2012
DIA DA POESIA?
espalho versos sem disciplina
minha sina meu respirar:
és meu verso e eu, teu servo,
te sirvo o amar
poemas me surgem sem quê nem porquê
aqui e acolá vão se soltando
e só quem me lê vai completando
o seu existir
de onde provém esse meu elixir?
pérola e emoção, atrai emoção
a quem lê
essa ressonância entre mim e você
respirar não se adia
poesia tem hora? tem dia?
minha sina meu respirar:
és meu verso e eu, teu servo,
te sirvo o amar
poemas me surgem sem quê nem porquê
aqui e acolá vão se soltando
e só quem me lê vai completando
o seu existir
de onde provém esse meu elixir?
pérola e emoção, atrai emoção
a quem lê
essa ressonância entre mim e você
respirar não se adia
poesia tem hora? tem dia?
AMOMEZE, AMOROMEZE
amomeze amoromeze
enbuŝigita peniso mia
tragorĝe moviĝas iĝas
plenfluga birdo fluganta bardo
ĝis buŝa ĉielarko via
vespero magia mia deziro
daŭra rondiro fariĝas nia
renoviĝintaj amantoj
- fortaj ondoj leviĝantaj -
furoras amoras horloĝ-forgesite
disdonitaj kantoj.
la tempo lacema
haltema
tiun longan spiron entenas
la tagon vekigas amo nia harmonia
la vivo poezias solene kaj plene
sanktigita de amo - svene magia
kaj amo kaj vivo kaj versoj
kaj universoj moviĝas
per la forto poezia.
quinta-feira, março 08, 2012
SOL-SE-PONDO
que amores
me reservas?
que cores
que relvas
que flores
que ervas?
quantas tardes
solporemos?
que crepúsculos
obraprimam
nosso encontro?
quentes primaveras
quantos sóis verão?
quanto ninho
se desmancha
palhas?
quanta pena
voa já sem pausa
sem pássaro
sem ar sem sequer
voar?
me reservas?
que cores
que relvas
que flores
que ervas?
quantas tardes
solporemos?
que crepúsculos
obraprimam
nosso encontro?
quentes primaveras
quantos sóis verão?
quanto ninho
se desmancha
palhas?
quanta pena
voa já sem pausa
sem pássaro
sem ar sem sequer
voar?
ME POEMAS, MULHER!
traço letras
que me escrevem
fotos grafam-me
poemas instantes
fotocopio e fotoguardo
momentos movimentos
teu som.
traças meu perfil
trocas meu refil
me fazes palavra
me prendes no canto
me impões o papel
te alvo a caneta
te salvo e secreta
me condenas
à busca do livre
que sou
do livro
que sou
do texto que estou
te sendo.
que me escrevem
fotos grafam-me
poemas instantes
fotocopio e fotoguardo
momentos movimentos
teu som.
traças meu perfil
trocas meu refil
me fazes palavra
me prendes no canto
me impões o papel
te alvo a caneta
te salvo e secreta
me condenas
à busca do livre
que sou
do livro
que sou
do texto que estou
te sendo.
terça-feira, março 06, 2012
TRILHA
Segue a mesma trilha de animal
ferido agonizante
e reverbera no céu de volta à terra
supõe ter um começo e um final
sol no cristal devolve luz e vida
– e sigo
eu pessoal ferido: separado
esquecido sempre indo adiante
atado ao tempo apartado vacilante
supondo-se mortal e condenado
sigo essa trilha gasta dos
costumes
dos truques aprendidos ataques
defendidos
fendidos cascos dos caminhos
rudes
eu pessoal que se supõe caçado
inacabada construção com seus
tapumes
cansado de fugir e de atacar cansado
sem horizonte esqueceu-se
vertical
linha de luz que vai da terra ao
céue reverbera no céu de volta à terra
supõe ter um começo e um final
esquece que a vida só lhe
aconteceu
na ilusão de errante – e então
erra
sem caminho a cumprir meta a
alcançar
deixa de ver o orvalho flores e
cristais
esquece a travessia segue sem
parar
em meio à abundância sente-se
mendigo
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