1
meu velho e torto coração poeta
com este sério
cérebro sagaz
celebra belo o
acordo de figurinhas
trocar
tanto tempo se
estranhando como agora começar?
2
viviam
encastelados cada qual na sua língua
tanto papo
acumulado tanto entendimento à míngua
a fria nação
do Norte morde o Sul ao imperar
joga palavras
e números
aturdido o
coração sente o quadro
– sacanagem!
vinha tanta
inequação sem tradução para imagem:
aquele nó na
garganta aquela imensa friagem...
3
no salão o
burburinho estatísticas berravam
metáforas, nem
um pio!
cérebro em
ponto final coração, exclamação!
surge a
interrogação: em que língua se expressar?
4
a impostora
tradição salta aos olhos secular
a língua do
grande irmão se entortou e se expandiu
compreensão
meia boca o entendimento fugiu
veio de gênio
o toque
no menino em
Bialistoque[1]
faz tempo já conversavam
brincando se
completavam o cérebro em seu rigor
e o coração
puro amor – amizade à toda prova!
5
5
guerras brigas
tiro e cova tudo com dias
contados?!
inocência diz
que sim, e experiência, uma ova!
foi cada qual
pro seu canto o canto frio da certeza
e canto do
desencanto
nada disso faz
sentido já temos língua em comum
para alfinetar
o amigo e fazer dele inimigo
chuto o balde
e mato um e com gostinho de sangue
só mais um vou esfolar
a língua do
coração lá vinha o cérebro usar!
6
o princípio da
incerteza destilou seu desencanto6
mesmo falando
esperanto não vejo nada tranquilo
instrumento de
tortura esse tal komunikilo[2]!
sem me sentir homarano[3]
de que vale esse esperanto?
o coração sente um brilho e ao cérebro cochicha
quem cochicha o rabo espicha quem escuta o rabo encurta
- dizia Vovó num canto
reina em mim separação disse o cérebro afoito
e os corações... somos um! no meio do burburinho
tomando chá com biscoito em vislumbre e encanto
esperanto e Esperanto proclamam - sim, somos um!
em cada nova geração novo sonho a implantar
será que nós somos um? ... deixe o coração falar!
[1] Cidade polonesa onde nasceu L.L. Zamenhof, iniciador do
Esperanto
[2] Em Esperanto, ilo (instrumento) por komuniki (para comunicar), quando não se fala a mesma língua.
[3] Em Esperanto, hom(o)
+ ar(o) + ano, diz-se daquele que se sente, em contexto internacional,
membro (ano) da coletividade (aro) de humanos (homo).
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1
mia olda torda poeta
koro
kun ĉi serioza cerbo
sagaca
belan akordon celebras
pri pli bona
interŝanĝad'
tiom da temp' en disputo kiel nun komenci ja?
2tiom da temp' en disputo kiel nun komenci ja?
enkateninte vivis ĉiu
en sia propra lingvo
ja tioma babilar' ja
tioma miskompren'
malvarma norda naci'
sudan mordas reganta
vortojn kaj nombrojn
ludanta
konsternite mia kor' sentas fian la framon!
tiom da malkongrueco sen
ia traduko al bildo:
tiu bulo en mia gorĝo
tiu grandega malvarmo...
3
en la salono zumado
statistika kriado
metafor' silentigita!
cerbo je punkto fina
koro je signokri'!
ekvenas la demand':
sin esprimi kiulingve?
la trompiga tradici'
saltas al laikaj okuloj
la lingvo de l' granda
frato en kliniĝa ekspansi'
miskompreno duonfuŝo
interkomprena forkuro
venis la genia tuŝo
la knab' en Bialistok'
delonge jam paroladis
ludante sin
kompletigis la cerbo en rigoreco
kaj la koro pura am' -
plentestata amikeco!
4
militoj bataloj paf'
kaj kavo ĉu finiĝantaj tiuj
tagoj?!
senmalico diras jes,
kaj sperto, mia pugo!
iris ĉiu al sia angulo
malvarma angul' de certeco
angul' de
seniluzi'
nenio el tio sencon
havas interlingvon jam ni havas
por piki l' amikon kaj
igi lin malamikon
piedbate en sitelo ja
mortigi unu pli, pro la sanga gusteto
nur unu pli
senhaŭtigi
5
la lingvon de l' koro
venis la cerbo uzi!
la necerteca principo
seniluziiĝon distilis
eĉ se paroli
esperanton nenia kvietigo
instrumento de torturo
tia komunikilo!
sen senti min homarana
al kiu valoras esperanto?
6
6
la koro sentas brilon
kaj al cerbo ekflustras
kiu flustras l' vosto
kreskas kiu aŭskultas l' vosto kurtas
- diris Avinjo en angulo
reĝas en mi apartigo
diris la cerb' temerara
kaj koroj... estas ni
unu! Meze de tiu bruo
havante teon kun
biskvito en ekvido kaj ravo
esperanto kaj
Esperanto proklamas - jes, ni estas unu!
en ĉiu nova generacio
nova sonĝo enmetota
ĉu eble ni estu unu
... lasu la koro paroli!
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