domingo, 1 de maio de 2022

VENTANIA/ URAGANO



havia o ventinho tímido 

com medo até de ventar

a manhã alegre transpirava fragrâncias

os pássaros, sinfonias


começa incessante o vento a crescer

fica forte e sem vergonha

e sem vergonha e sem medo

e sem vergonha e atrevido

e sem vergonha e insolente:

o inofensivo ventinho tímido

transforma-se em turbulência

tufão terror tempestade

furacão ferocidade 

segue intrépido e estrepitoso

quebra tudo que vê leva tudo que vê

com estrondo e confusão

vento safado! levantou a saia dela

só pra dar uma espiada, eta vento comilão!

comeu goiaba mamão comeu poeira e espirrou

será que o vento é alérgico?

nossa que vento forte fez voar o barracão!

será que ele está zangado? 

como venta veloz o vento

quando o vento quer ventar

solta vento pelas ventas

parece dragão sem fogo

querendo o fogo soprar!


ufa! até que acalmou ficou 

sereno sossegado ficou manso

ficou suado de tanto correr

vento até parece gente: 

se zanga e quebra o que vê

e xinga e arrebenta tudo

mas sossega de repente

    vento parece gente?


ekis timida ventet' 

timema eĉ ventad'

parfumon transpiris gaja maten' 

simfoniojn, tiuj birdoj 

senĉese ekkreskas vento 

iĝas forta senhonta

sentima senhonta 

trokuraĝa senhonta 

aroganta senhonta:

sendanĝera timida ventet' 

iĝas tiam turbulad'

uragan' terur' tempest'

feroca furio sentima bruema

rompas forportas ĉion 

granda brua konfuzo

ruza vento vento ruza!

nur por elrigardeto 

levis ĝi ŝian jupon

kia vento manĝegema!

manĝis gujavon papajberon 

manĝis polvon kaj ternis

ĉu eble alergia? kia forta vento!

forflugis domaĉon!

ĉu koleretiĝis ĝi? 

rapidege ventas vento

kiam vento volas venti

naz-true delasas venton 

simile al senfajra drako 

kun vol' pri fajrablovad'!

finfine ĝi kvietiĝis

sereniĝis mildiĝis

pro tiom kuri ŝvitis

vento eĉ ŝajnas hom': 

furioze rompas ĉion 

ĉion insultas diskrevigas

subite tamen kvietiĝas

    ja vento ŝajnas hom'


terça-feira, 29 de março de 2022

NA GARGANTA/ GORĜE

 


"Um dia nós vamos morrer, mas todos os outros dias, não!" (Mário S. Cortella)

hesitei escrever hoje

tarde triste! ânimo fugaz!

ao escrever, anoitecia:

a tarde cinza se fez fotografia fria

não tirada ainda assim esmaecida

como instantâneo da vida 

sempre por um triz

evento momentâneo ainda assim

imenso precioso feliz

 

ser feliz é saber um dia morrerei 

                    nos outros todos não

no máximo o ir e vir da deusa solidão

falsa irmã gêmea da apatia!

 

********

                                   "Iam ni mortos, sed en ĉiuj aliaj tagoj, ne!" (Mário S. Cortella)

hodiaŭ hezitis verki mi

trista vespero! forfuĝa anim’!

verkinte, noktiĝis:

la griza vesper’ glacia foto iĝis

perdita fotografio tamen pala

kiel ekfoto de vivo

ĉiam lastmomenta evento

grandega tamen rara kara plaĉa

 

feliĉi estas scii, ke iam mortos mi

                             en la ceteraj ne

maksimume ia soleco - tiu diino

falsa ĝemel-fratino de apatio!


domingo, 27 de março de 2022

DESEJO/ DEZIRO

 


DESEJO

ah! o não-dito em poesia

o só pensado...

estivéssemos na vindoura era

da telepatia...

    por ora a aurora é tele-apatia

    por ora, ora.

 

DEZIRO

aĥ! nediritaĵo en poezio

nur pensitaĵo...

estu ni en l' estonta erao

de telepatio...

    dume aŭroras tele-apatio

    dume nu preĝe nu.


quarta-feira, 9 de março de 2022

LÍQUIDO/ LIKVE

 


LÍQUIDO

o amor com toda certeza

- é melhor ficar esperto –

burla as leis da natureza:

o amor é líquido e incerto

 

o amor venta onde quer

o amor é a própria lei

cega homem e mulher

(“eu só sei que nada sei”).

 ******

LIKVE

Jen la amo tutcerte

- tial estu vi preta! –

trompas naturajn leĝojn:

amo ja likvas necertas

 

amo ventas kie ajn

amo jen la leĝo mem

viron virinon blindas

(“mi nur scias nenion scii”).

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

EKAS NOVA ERAO/ INICIA NOVA ERA


                                                                 EKAS NOVA ERAO

        Vekiĝis Ulo strange frue. Sen pensi, li nur sentis: "Ho, nova lingvaĵo 

ege bezonatas! Dueca fragmentigo ne plu!" 

        Zefiro stranga tuj sur li blovetis. Spiro malfaciladis. Ventete

venteto ventis: "Venu do fine nova lingvaĵo preskaŭ slango!" 

        Ulo pli kaj pli sentis sin ian eksterakvan fiŝon. Venas eble nova 

Regulo – pensis Ulo, fakte ne pensis, sentis. Laŭ nova stranga 

lingvaĵo, ruiniĝis falis kraŝis la tuta ne konata Erao de Fiŝo. Fiŝo,

tamen, ĉiam kaptita de la iluzio reta. Enkatenita, Ulo sin perceptis

kaptitan fiŝon, dezirantan tamen ascendi al la nova Erao de Akvario. 

Neniel simpla fiŝujo, kiel antaŭe. Inaŭgure de nova sinesprimilo, intuicio 

ekaperis: Spiranta Koro iĝas ejo de tute nova dirilo, tute nova 

dirmaniero, pli metafora certe, pli poesia eble, pli veroportanta 

sendube. 

        Ekkonscio pri Unuo, jen Akvario signas ne novan kaptilon, sed

liberigan novigon neniam antaŭsentite, ia navigebla aersigno, signo de 

ora espero, ora aŭroro, ke Suno neniel tiel vibris, male Suno 

eliris dormon rekte al ekvekiĝo frua, frua. Same Ulo.

      

                                                INICIA NOVA ERA

        Despertou Cara estranhamente cedo. Sem pensar, só sentia: "Oh, 

uma nova linguagem é muito necessária. Fragmentação dualista não

mais!" 

        Estranho Zéfiro de imediato leve soprava. Respirar custava. Leve 

brisa, ventinho ventava. "Venha enfim nova linguagem quase gíria, 

slang!" 

        Cara mais e mais se percebia tipo peixe fora d’água. Vem talvez

nova Regra – pensou Cara, de fato não pensou, sentiu. Segundo nova

estranha linguagem, ruía caía se esborrachava a não totalmente

conhecida Era de Peixe. Peixe, porém, sempre capturado pela ilusão

da rede. 

        Aprisionado, Cara se percebia peixe cativo, desejando, porém, 

ascender à nova Era de Aquário. De forma alguma seria simples moradia 

artificial de peixe, como antes. Inaugurando novo instrumento de 

expressão, aparecia intuição: Coração Respirante se torna um novo lugar 

do dizer, totalmente nova maneira expressiva, mais metafórica na certa, 

mais poética talvez, mais portadora da verdade sem dúvida. 

        Consciência incipiente da Unidade, Aquário assinala não uma

nova armadilha, mas uma inovação libertadora, nunca pressentida,

signo de ar navegável, signo de áurea esperança, áurea aurora, que o

Sol nunca vibrara assim, ao contrário, o Sol, desvencilhado do sono,

vislumbrava um precoce, precoce despertar. Igualmente Cara.


*****


        Encomende agora seu exemplar Percurso às avessas - Editora Penalux

domingo, 20 de fevereiro de 2022

SEMANA DE RUPTURA/ SEMAJNO DE ROMPAĴO


 

SEMANA DE RUPTURA

Oswald na linha de frente,

os rapazes de 22 atiram na plateia

pasma o poema-piada

vaias ovos tomates reacionários

rugem reagem à irreverência:

que piada! não é poema nem nada!

 

ainda hoje arrulham pombos parnasianos

tará tará tati tará tará tatá!

o leitor-saliva não pára de babar

desde os bancos ginasianos

isto, sim, é poesia!

 

pós-moderno o poeta apita: stop!

e por frase incompleta decreta:

poema-piada?! ora, piada mesmo é ser poeta!

 

 SEMAJNO DE ROMPAĴO

Oswald ĉe antaŭgvardo,

la knaboj de 22 ĵetas ŝerco-poemon

sur la gapa aŭdantar’:

prifajfoj ovoj reagaj tomatoj

bleke reagas al senrespektem’:

kia mokaĵo! tio estas neniel poem’!

 

eĉ nun kveras parnasaj kolumboj

tara’ tara’ tati’ tara’ tara’ tata’!

salivo-leganto ne ĉesas gapi

ekde lernejaj benkoj tio ja jen poezio!

 

post modernaj poetoj prifajfas: haltu!

kaj per nekompleta frazo dekretas:

ĉu ŝerco-poem’?! nu, serĉo estas poeto mem!

domingo, 13 de fevereiro de 2022

OPUS ALQUÍMICO/ ALĤEMIA LABOR’

 

OPUS ALQUÍMICO

vaso alquímico arte

beijos bodas celebração

poeta poema poesia

e transmutação

 

jogo fogo brinquedo em conjunção

nigredo segredo rubedo albedo

onde o todo? onde a parte?

 

animus-anima – casamento anímico

Eros-Psique beijo alquímico

celebram a Totalidade em mim:

o Self serve sem fim sem fim sem fim

 

ALĤEMIA LABOR’

alĥemia ujo arto

kis’ celebro edziĝa

aliformiĝas poeto poem’

poezi’

 

konjunkcie ludo fajro ludilo

nigredo sekreto rubedo albedo

kie tuto? kie parto?


animus-anima – anima edziĝ'

Eros’-Psiĥo – alĥemia kis'

ĉio celebras Tutecon:

Self’ servas sefine sefine sefine


sábado, 8 de janeiro de 2022

IMAGENS SONHOS REFLEXÕES / IMAGOJ SONĜOJ REFLEKTOJ


IMAGENS SONHOS REFLEXÕES

sou metonímia íntima

contemplar tuas partes

me revela o Todo


sou metáfora franca

brinco dentro-fora-dentro

sinto o Centro Ser em mim


sou poeta visito tua imagem

te saber miragem nuvem

entremostra essência perfume


mesmo que de amor gema

sei que amor com algema

não rima amor exala esperança


mesmo se temporal chuva

surge o Sol interno desarmado

vacinado imunizado outra vez feliz


IMAGOJ SONĜOJ REFLEKTOJ

intima metonimi'

kontempli viajn partojn

al mi rivelas la Tuton


sincera metaforo

ene-ekster ludas 

Centro Esto estas mi


vian imagon tiu poet' vizitas

scii vin miraĝ' nub'

ekvidigas esencon parfumon


eĉ se pro amo mi ĝemu

am' kun mankaten' ne rimas

esperon amon eligas


eĉ se tempesto pluv'

vakcinata imunigata refeliĉa

enas supoza malarmata Sun'

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

VINHO/ VINO



 VINHO

poesia engarrafada

merece cálice de vinho

poema vive de bem

com Baco ou Dionísio

cálice de vida dose nada sóbria

de poesia

degustar vinho vida poesia

se embriagar de amigos

amigas metáforas


vinho sabe a companhia

e não passa ao largo

se o vinho vem sozinho

quem azedo? quem amargo?


se em mística solidão

se lembre de celebrar

a indecifrável metáfora

a inseparável unidade

o amor de Mãe Gaia

no insondável coração!


VINO

enboteligita poezio meritas glason

da vino. Feliĉan poemon, kiuj bone vivas 

kun Bako aŭ Dionizo

glaso da vino dozo neniel sobra

da poezio

frandi vinon vivon poezion

nur ebriiĝi de amikoj

metaforoj amikinoj


kompanion scias vino

volas esti via paro

kiam vino sola staras

- kiu acidas? kiu amaras?


dum mistika soleco

ĉiam memoru celebri

nedeĉifreblan metaforon

neapartigeblan unuon:

la am' de patrino Geo

en nia nesondebla kor'!



quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

CRONOLOGIA DE DESAFETOS/ KRONOLOGIO DE MALAMIKOJ

 


                         Fotis Paulo P Nascentes

CRONOLOGIA DE DESAFETOS

Vila Abraão molhada

de chuva:

plantas sorriem discretas

pessoas no talvez susto

querem indiscretas saber duração

Ilha Grande museu memórias

do cárcere tentativa de amedrontar Graciliano

em vão – em dois volumes

conta tudinho comida latrina

insalubre ausência de dignidade

sol a pino chuva fina

indecente sem pudor


na Praia de Dois Rios sífilis horror 

se dizia Casa de Correção

pura ironia? supremacia do conflito

sobre a diplomacia sem vencedor – só vencidos

grita o tempo no museu: ninguém venceu!

 

KRONOLOGIO DE MALAMIKOJ

Vilaĝo Abraão malseka

pro pluvo:

plantoj ridetas diskretaj

homoj ebla ektimo maldiskreta

volas scii pri daŭro

Ilha Grande muzeo memoroj

de karcero provo timigi Gracilianan plumon

vane – duvolume

ĉion ĉion rakontas manĝo necesejo

nesalubra manko de digneco

zenita suno minca pluvo

maldeca sen-hontema


en Plaĝo Du Riveroj sifilis' abomeno

sin nomumis Pun-korektejon

ĉu pura ironio? supereco de konflikto

super diplomatio sen venkinto – nur venkitoj

krias tempo en muzeŭ: venkis neniu!


quarta-feira, 17 de novembro de 2021

VELÓRIO DE SOMBRAS / FUNEBRA CEREMONIO DE OMBROJ

 

VELÓRIO DE SOMBRAS

                           (pós pesadelo)

abstrato incorpóreo universal

masculino feminino primordial

minha alma tem

retrato sem corpo em água e sal

tem dentro de mim assim assim

pai histórico mãe histórica histérica

só memória em água e sal

 

essa história incorpórea

em mim corporifica

em zelos desmazelos pesadelos

novelos enredos peixe e redes

naufrágios no mar inconsciente

onde também tem sonhos e sedes

fomes de afeto afagos anfíbios

afogados entre mar e terra

 

nesse meio tem meus anseios

onfalos ânforas falos receios

conchas carapaças caramujos

alma áspera à espera de féretro

                    à espera do de cujus...

 

FUNEBRA CEREMONIO DE OMBROJ

                           (post koŝmaro)

abstrakta senkorpa universala

praan viron inon

portas mia animo 

senkorpa akvo-sala portreto

en mi estas tiel-tiele

historia patro historia histeria patrin’

nur akvo-sala memor’

 

tiu senkorpa histori’

enkorpiĝas ĉe mi

per zorgoj malzorgoj koŝimaroj

fadenbuloj intrigoj fiŝoj retoj

ŝip-dronoj en nekonscia mar’

kie ankaŭ jenas sonĝoj soifoj

kor-inklinaj karesaj malsatoj

dronitaj amfibioj inter mar’ kaj ter’

 

meze al tio, miaj angoroj

omfaloj amforoj falusoj timoj

konkoj karapacoj helikoj

akra animo l' ĉerkon atendante

                l' kadavron atendante...


domingo, 31 de outubro de 2021

NÓS NO PERCURSO desate os seus / NI NODOJ DUM TRAIRO eksplodigu la viajn


NÓS NO PERCURSO: desate os seus

    Conflitos se avolumavam. Éramos inimigos fractais. Nós no percurso criamos e desatamos nós.

    -- Segura as pontas!

    Unimos algumas, criamos laços. Quem nos via assim mal sabia de nós, embaraços, emaranhados. Quem se unia a nós revia percursos, criava laços, unia traços, ressurgia no amor, retomava confiança, dava linha aos sonhos e nas asas do sentido recriava convivências. Nós no percurso reatávamos laços com os nós e o Si-mesmo em cada um. Agora amigos fractais, adivinhávamos sinergias no novo navegar. Preciso. Mais precisos, mais vagar trazíamos ao viver. Navegar é preciso, tanta correria não!

    Paisagens nós mesmos criávamos na criação do percurso de nós cegos a nós na fita. Enfim, holos e elos cultivávamos.

    Que venham a nós os nós cegos de inimigos fractais. Nós desatamos. Nós no percurso sabemos: o percurso somos nós!


NI NODOJ DUM TRAIRO: eksplodigu la viajn

    Konfliktoj volumiĝis. Estis ni fraktaj malamikoj. Ni dum trairado kreas kaj eksplodigas nodojn.

    -- Prenu malfacilaĵojn!

    Kelkajn ni kunligas, maŝojn ni kreas. Kiuj tiel vidis nin apenaŭ sciis pri ni, niaj nodoj, embarasoj, konsterniĝoj. Kiuj al ni kuniĝis rekonsideris trairadojn, kreis maŝojn, kunligis tajtojn, reekaperis ame, reprenis konfidon, nutris sonĝojn, revojn kaj tra senco-flugiloj rekreis kunvivadojn. Ni dum trairado religis maŝojn kun ni kaj tiu Si-mem en ĉiu ni. Nun fraktaj amikoj, sinergion ni divenis dum nova navigado. Necesa. Preciza. Despli pli precizaj, pli malrapide vagadis dum nia vivo. Navigi necesas, tioma kurado ne!

    Pejzaĝojn ni mem kreis dum traira kreado de ni mem, trairon ni kreis: trairo de ni el neelnodigebla nodo al ni sukcesuloj. Alivorte, holoson kaj ĉenerojn ni kulturadis.

    Venu al ni la neelnodigeblaj nodoj de fraktaj malamikoj. Nodojn ni elnodigas. Ni dum trairado scias: la trairado ni estas!