sábado, 10 de outubro de 2020

SUPERNOVA

 

SUPERNOVA

explodem em luz

partidos

legislativos inativos

judiciários sem juízo

executados executivos

tudo se decompõe

se recompõe humilde

unidade

 

SUPERNOVA

eksplodas lume

partioj

malaktiva leĝisdomo

sensaĝa justica povo

ekzekutita ekzekutivo

ĉio putriĝas

rekunmetiĝas humile

unie

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

VINGANÇA/ VENĜO

 

VINGANÇA

        Mastigava. E mastigava. Não se sabe o que tanto triturava entredentes. Chicletes não era. Dizia ter nojo. Remorsos, intrigas, talvez. A raiva do palavrão engolido? Do xingamento não vomitado? O remoer da vida – “osso duro de roer”?

        Mordeu a língua. Tanto sangue! Quase morre à míngua.

 

                                                        VENĜO

        Li maĉis. Kaj maĉis. Oni ne scias, kion li tiom interdente pistis. Maĉ-gumo ne. Pro naŭzo, li diradis. Mem-riproĉoj, klaĉaĵoj, eble. Ĉu la kolero pro la englutita fivorto? Ĉu la ne vomita sakrado? Ĉu la remuelado de la vivo – “malmola kiel ŝtalo”?

        Mordis li la langon. Tiom da sango! Preskaŭ manke li mortis.


QUERO MINHA VÓ!!!/ MI VOLAS AVINJON!!!

 

QUERO MINHA VÓ!!!

No tempo da Vovó a cura da loucura era o... cura. Vinha o cura. A cura, algumas vezes. Hoje tem muita loucura premiada: cargo no poder público, chefia, prestígio. Dizer o que dá na telha rende prestígio, fiéis seguidores. Ressonância gera admiração e votos. Da loucura, porém, sei mais da minha, mesmo sendo quase nula a cerca do vizinho. Loucura-puxa-loucura se faz tortura, rebenta a pele exígua do real. Muitos loucos, outros, poucos. A democratização da loucura, um fato: o noticiário instiga, a publicidade promete, a profecia se cumpre.

        Releio-me, só teoria desengonçada, menos açodada do que devia. O truque me desvia do meu sentir tortuoso, torturado, triste. Vontade, fio de teia de aranha fora da teia, ausente contexto, fácil romper, como a sanidade, de que pouco se sabe, mercadoria em promoção na farmácia. Vou ao psiquiatra, mas só depois de amanhã: antes, conto um conto aumenta um ponto. A escola me condicionou, gosto de pontos no boletim. Ocorrências fora repercutem dentro, relidas fora, julgamentos, diagnóstico, fofoca. Melhor fazer fofoca no faz de conta da ficção que no santuário do consultório hoje sem o cura. O especialista acaba de ser interrompido pela ditadura do relógio, o grito neurótico do celular e seu cronômetro obediente.

        Também eu domesticado na obediência inqualificável, embora meu lindo lado louco queira mesmo é ser ingovernável. Quero minha Vó! Quero minha Vó!!!

 

MI VOLAS AVINJON!!!

En la tempo de Avinjo, la kuraco de frenezeco estis... pastro. Venis la pastro. La kuraco, kelkfoje. Hodiaŭ estas multa frenezeco premiata: posteno en publika povo, estrado, prestiĝo. Diri kion oni volas fordonas prestiĝon, fidelajn sekvantojn. Agordo naskas admiron kaj voĉdonojn. Pri frenezeco tamen mi iom scias pri la mia, eĉ se preskaŭ nula estas la barilo de la najbaro. Frenezo-portas-frenezon, iĝas torturo, rompiĝas la delikata haŭto de la realo. Multaj frenezuloj, la aliaj, malmultaj. La demokratiigo de la frenezeco, fakto: novaĵoj instigas, propagando promesas, antaŭdiroj plenumiĝas.

        Min mi relegas, nur pumpla teorio, malpli rapidiĝita ol devus esti. La artifiketo min devias de mia torda, tortura, trista sento. Volo, fadeno de araneaĵo for de la teksaĵo, forestanta kunteksto, facile rompebla, kial la saneco, pri kio malmulte oni scias, enmerkatigo en la apoteko. Mi iros al la psikiatro, sed nur postmorgaŭ: unue, mi rakontos rakonton, aldonas poenton. La lernejo min kondiĉis, poentojn mi ŝatas sur la bulteno. Eksteraj okazaĵoj eĥas ene, relegitaj ekstere, juĝoj, diagnozo, klaĉado. Plibone klaĉi en la ŝajnigo de la fikcio ol en la sanktejo de la konsultejo hodiaŭ sen pastro. La fakulo estis ĵus interrompita de la diktaturo de la horloĝo, la neŭroza krio de la poŝtelefono kaj ĝia obea kronometro.

        Ankaŭ mi dresita de la senkvalifikebla obeado, malgraŭ mia bela freneza flanko volu ja iĝi neregebla. Mi volas Avinjon! Mi volas Avinjon!!!


terça-feira, 15 de setembro de 2020

SER EGOÍSTA, SER SAUDÁVEL, SER OU SER/ ESTULO EGOISTA, ESTULO SANA, ESTI AŬ ESTI


SER EGOÍSTA, SER SAUDÁVEL, SER OU SER: a linguagem tem muito a revelar

        Amados irmãos e irmãs, saudações!

        Como devemos entender as expressões do título? Primeiro, o que é uma expressão? Algo que exprime um estado de ser num dado momento em que o Ser se expressa. Mas, como o Ser em nós se expressa? O Ser se expressa quando uma impressão, em geral profunda, surge. Mas, precisamos compreender com clareza o que nos impressiona e então devemos expressar isso.

        Segundo, as expressões do título, como os símbolos, expressam mais do que aquilo que inicialmente supomos. Vamos ver então cada uma delas.

        A primeira impressão é que são quatro expressões logicamente excludentes. Assim, “ser egoísta” exclui “ser saudável” que exclui ser ou ser. Entenda bem: isto não é um jogo de palavras vazio. Primeiro é preciso entender que substantivos têm peso específico diferente de adjetivos e de verbos. Quais são os substantivos? São três? São quatro ou são apenas um?

1)  Primeiro o substantivo “ser”, adjetivado como “egoísta”. Ora, o que é ser “egoísta”? Num avião em pleno voo passando por uma emergência, o comandante nos pede para sermos egoístas, se quisermos ser “saudáveis”. Isso mesmo! Em caso de despressurização da aeronave deveremos contrariar o instinto e o senso comum. Deveremos colocar a máscara pendente sobre nós primeiro na nossa cabeça e só depois nas nossas crianças. Não é assim? Logo, o adjetivo “egoísta” já nos enganou. Ele é do bem!

2) O segundo substantivo “ser” tem por adjetivo a palavra “saudável”, que nos remete a inteireza e plenitude. Ora, precisaremos de muita inteireza e plenitude para sermos saudavelmente “egoístas” no caso do avião em despressurização. E teremos que decidir sob pressão, não fosse pelas sábias orientações do comandante. Nesse caso o melhor a fazer é seguir a voz comandante! Assim, concluímos que para sermos saudáveis deveremos ouvir e seguir a voz do Comandante que ressoa em nós! E obedecer!

3) O terceiro substantivo “ser” está sem adjetivos. Ora, devemos ser cautelosos com adjetivos que expressam julgamentos, que em si mesmos não são bons nem maus. Julgamentos criteriosos nos ajudam a discernir aquilo que deve ser feito, o rumo que deve ser tomado. Então, convém obedecer à voz do Comandante? Ou devemos ser em uníssono com o Comandante?

4) Por fim, o quarto substantivo é verbo. Como assim? O verbo ser no infinitivo funciona como se fosse substantivo no aparente dilema: ser ou não ser, eis a questão. Ora, o ser nesse quarto caso, por ser verbo – e não substantivo – vem despojado de qualquer adjetivo. É o ser pleno, em inteireza, plenitude, totalidade. O ser que é ser e que jamais vacila, nas guerras imortais entra sem susto, fica sorrindo num sorriso justo, enquanto tudo em derredor oscila – como disse o poeta simbolista Cruz e Souza. Ser essencial – falo do verbo, do fluir infinito e infinitivo – é o Comandante da nossa Aeronave. É a voz interior em nós, voz suave, quase inaudível, que nos orienta e sussurra em flashes de meditação. Portanto, meditar é preciso, navegar é preciso, viver não é preciso! – como dizia a divisa dos arrojados navegadores que descobriram o Novo Mundo. Ora, se queremos descobrir, desbravar, nos harmonizar e viver o Novo Mundo, então, navegar é preciso! É preciso navegar de olho na Bússola, no Sextante, nas Cartas Siderais e nas Estrelas – pois das estrelas somos nascidos, somos o povo das estrelas em missão na Terra. Nesse Orbe, nossa missão vai chegando ao fim. Não exatamente ao fim – corrige o Comandante – mas, estamos entrando em novo nível, nova fase, nova dimensão, um desdobrar da nossa missão, que é única para cada um: expressarmos em plenitude, graça, inteireza e verdade aquilo que somos – o Comandante a expressar Luz, Vida, Amor inerente aos arquétipos da abundância, amor, beleza, bondade, inteireza, justiça, poder, verdade e self. E o que é o self quântico, que afirma Eu e meu Pai somos um? O self é Totalidade e Sua voz é o Comandante que diz – Eu sou Aquele que é.

E então, pronto para confiar? Pronto para obedecer? Pronto para continuar a navegar? Pode confiar: navegar é preciso! Viver, não! Viver é impreciso. E nisso consiste toda a graça do jogo!

Paulo P Nascentes

Brasília, DF, 14/09/20, de 06:00 às 07:00 a.m.


********* 

  ESTULO EGOISTA, ESTULO SANA, ESTI AŬ ESTI: la lingvaĵo multe povas riveli

          Amataj gefratoj, salutojn!

        Kiel ni devas kompreni la esprimojn de la titolo? Unue, kio estas esprimo? Temas pri io, kio esprimas esto-manieron iam, kiam la Esto sin esprimas. Sed, kiel la Esto en ni sin esprimas? La Esto sin esprimas kiam impreso, ĝenerale profunda impresso, ekaperas. Sed, ni bezonas klare kompreni tion, kiu nin impresas kaj tiam ni devas esprimi tion.

        Due, la esprimoj de la titolo, kiel simboloj, esprimas pli ol tio, kiun dekomence ni supozas. Do ni vidu ĉiun el ili.

        La unua impresso estas, ke ili estas kvar malsamaj esprimoj logike ekskludantaj. Do, “esti egoisto” ekskludas “esti sana”, kiu ekskludas esto aŭ esti. Komprenu bone: tio ne estas sensenca vortoludo. Unue estas bezonate kompreni, ke substantivoj havas specifan propran pezon rilate adjektivojn kaj verbojn. Kiuj estas la substantivoj? Ĉu ili estas tri? Ĉu kvar aŭ ĉu nur unu?

1) Unue la substantivo “esto”, adjetivate kiel “egoisma”. Nu, kio estas egoismi? En plenfuga aviadilo trapasanta danĝeran situacion, la komandanto petas nin esti egoistoj, se ni volos esti “sanaj”. Ĝuste tio! Okaze de ekmalpremo de la aer-veturilo, ni devos kontraŭstari nian instinkton kaj la komunan saĝon. Ni devos unue surmeti niakape la maskon pendantan sur ni kaj nur poste surmeti la alian sur la kapon de niaj infanoj. Ĉu ne estas tiel? Do, la adjektivo “egoisma” jam nin trompigis. Ĝi apartenas al la bono!

2) La dua substantivo “esto” havas kiel adjektivon la vorton “sana”, kiu nin alvokas pri kompleteco, pleneco. Nu, ni bezonos multe da kompleteco kaj pleneco por esti sane “egoistoj” dum la ekmalpremo en aviadilo. Kaj ni devos sub krita premo decidi kion fari, escepte de la saĝaj orientigoj de la komandanto. Ĉi-okaze la plej bonon fari estas obei la voĉon de la komandanto! Tiele, ni konkludos, ke por esti sanaj ni devos aŭdi kaj sekvi la voĉon de la Komandanto, kiu eĥas en ni! Kaj obei ĝin!

3) La tria substantivo “esto” aperas senadjektive. Nu, ni devas prudenti pri adjektivoj esprimantaj juĝojn, kiuj en si mem ne estas bonaj aŭ malbonaj. Kriteriaj juĝoj nin helpas diferencigi pri kio devos esti farata, la elektota direkto. Do, konvenas obei la voĉon de la Komandanto? Alivorte, ĉu ni devos esti unusonaj kun la Komandanto?

4) Fine, la kvara substantivo estas verbo... portugale. Kiel tio? La verbo esti en la infinitivo funkcias kvazaŭ substantivo en la ŝajna dilemo: esti aŭ ne esti, jen la demando. Nu, esto/esti en ĉi tiu kvara kazo, pro sia kondiĉo de verbo – sed ne substantivo – venas senigita de ajna adjektivo. Jen plena esto en kompleto, pleneco, tuteco. La esto kiu estas, kiu neniam hezitas, en nemortemajn militojn sen-ektime eniras, ridetas per ridelo justa, dum ĉio ĉirkaŭe oscilas – kiel diris la brazila simbolisma poeto Cruz e Souza. Esenca Esto – mi aludas al la verbo, al la senfina fluo infinitiva – estas la Komandanto de nia Aer-veturilo. Estas li ena voĉo, milda voĉo, preskaŭ neaŭdebla, kiu nin gvidas kaj flustras kvazaŭ flashes dum meditado. Do, mediti bezonatas, navigi necesas, vivi ne estas precize! – diris la devizo de la aŭdacaj navigantoj, kiuj malkovris la Novan Mondon. Nu, se ni volos malkovri, traesplori, nin harmoniigi kaj vivi la Novan Mondon, do, navigi precizas! Necesas navigi rigardante Kompason, Sekstanton, Siderajn Mapojn kaj Stelojn – ĉar el la steloj ni estas naskiĝintaj, ni estas la popoloj de la steloj en misio sur la Tero. Sur ĉi tiu Orbo, nia misio alvenas al la fino. Ne ekzakte al la fino – korektas la Komandanto – sed, ni ekeniras novan nivelon, novan fazon, novan dimension, disvolvo de nia misio, kiu estas unika por ĉiu ni, tio estas, esprimi plene, gracie, tute kaj vere tion, kio ni estas – la Komandanto esprimante Lumon, Vivon, Amon kaj la arĥetipojn de abundo, amo, beleco, boneco, tuteco, justico, povo, vero kaj self. Kio estas la kvantuma self, kiu asertas, ke Mi kaj mia Patro estas unu? Self estas la Tuteco, la voĉo de la Komandanto kiu diras – Mi estas Tiu kiu estas.

Kaj do, ĉu preta fidi? Ĉu preta obei? Ĉu preta daŭre navigi? Vi povas fidi: navigi estas precize! Vivi, ne! Vivi estas malprecize. Kaj tion konsistas la tuta graco de la ludo!

Paulo P Nascentes

Braziljo, DF, 14/09/20, de 06:00 às 07:00 a.m.


quinta-feira, 3 de setembro de 2020

POETA/ POETO

O Que é Poesia - Fernando Paixão


            POETA
teu olhar descabelado
 

verticaliza horizontes
marinhos
sem que as naus despenquem


tua linguagem desmiolada
subverte ocasos
cálidos
sem que o caos se instale
astros se desabem

teu ser descompasso
abre-se em espaços
únicos
sem que o tempo vário
deixe de ser vário
e uno!
****************

POETO
via nekombita rigardo
vertikaligas horizontojn
marajn
sen faligi ŝipojn

via ventokapa lingvaĵo
reversas sunsubirojn
varmajn
sen kaoso-instaŭro
astrokolapsado

via esto sentakta
malfermas en spacoj
nuraj
sen tempo diversa
ĉesu esti diversa
unuo!

          

terça-feira, 25 de agosto de 2020

ESPERANTO - MANTRO DE INTERNACIA AMIKECO/ ESPERANTO - UM MANTRA DE AMIZADE INTERNACIONAL

 O pó da sandália – Esperanto en Brazilo

Estimataj,

Papos Nascentes instigas nin pensi pri eblaj rilatoj inter Esperanto, Mantro, Internacia Amikeco, Monda Civitaneco. Ĉu vi emas eniri tiujn instigajn kaj nuntempajn temojn kaj aldoni viajn ideojn kaj kontribuaĵojn al la debato?


Papos Nascentes nos instiga a pensar nas possíveis relações entre Esperanto, Mantra, Amizade Internacional, Cidadania Mundial. Você entraria nesses temas instigantes e atuais e acrescentaria suas ideias e contribuições ao debate?

Spektu nun/ Assista agora: https://www.youtube.com/watch?v=0GSIiRrgAp8

Saiba mais. Legu plu.

https://esperanto.brazilo.org/programa-mia-amiko


  

ESPERANTO KAJ MUZIKO/ ESPERANTO E MÚSICA

Brazila Kolekto - Posts | Facebook

Saluton, geamikoj! Olá, amigos e amigas!

Papos Nascentes volas demandi kaj pensigi ĉiujn: Ĉu estas rilato inter specifa lingvo, nome Esperanto, kaj specifa lingvaĵo, nome Muziko? Alivorte, kiel rolas en Komuniko, Arto kaj Kulturo tiuj du homaj fenomenoj: Esperanto kaj Muziko? Spektu sube!

Papos Nascentes quer perguntar e nos fazer pensar: Haveria alguma relação entre uma língua específica, o Esperanto, e uma dada linguagem, a Música? Em outras palavras: qual o papel na Comunicação, na Arte e na Cultura desses dois fenômenos humanos: Esperanto e Música? 

Veja abaixo! Spektu sube!

https://www.youtube.com/watch?v=JN_bwmdqHuA

Saiba mais. Spektu plu!

Saiba mais. Legu plu.

https://esperanto.brazilo.org/programa-mia-amiko




terça-feira, 18 de agosto de 2020

ASSALTO PROPOSTO/ PROPONITA ASALTO

 Pin em Arma Branca

Caro Pedro, 

                             

Você me pergunta se estou bem e logo depois me coloca nessa

roubada! Você é meu amigo ou amigo da onça?


Logo de saída notei duas coisas: o suposto assaltante era

canhoto, o que me facilitaria, e a arma branca, uma faca

de cozinha, estava sem bala. Para ganhar tempo, perguntei se

ele tinha fogo, que meu cigarro tinha apagado. Solícito, depois

de anunciar: "ou você pula ou eu te mato", foi procurar fósforos

no bolso. A varanda era no 16º andar. Com a distração dele,

resolvi pular. Pulei nas costas, segurei-lhe o punho, tomei a

faca. Com o kotegaeshi que apliquei o punho sofreu forte torção, na certa muito dolorosa. Talvez tenha fraturado.

Com a faca na mão, saí dali em busca de fósforos, feliz por ter um tema para meu próximo conto. Só então me lembrei que eu nem fumo. 

Abraço,

PPN

**********************

Kara Petro: 

                             

Vi demandas min, ĉu mi fartas bone kaj tuj poste min metas en

tiun fisituacion! Ĉu vi estas mia amiko aŭ amiko de la jaguaro?

Tuj mi rimarkis du aferojn: la supozebla asaltanto estis maldekstrulo, kio min plifaciligus, kaj la tranĉ-armilo, kuireja tranĉilo, estis senkugla. Por gajni tempon, mi demandis, ĉu li havis fajron, ĉar la flamo de mia cigaredo estingiĝis. Sindonema, post anonci: "aŭ vi saltos aŭ mi mortigos vin", li ekserĉis alumeton en la poŝo. La balkono estis en la 16ª etaĝo. Pro lia distriĝo, mi decidis salti. Mi saltis sur lia dorso, firm-tenis lian pugnon, elkaptis la tranĉilon. Pro la kotegaeshi de mi uzata, la pugno suferis fortan tordon, certe ege doloriga. Eble eĉ ost-rompiĝo okazis.

Kun la tranĉilo ĉemane, mi eliris el tiu loko serĉe de alumeto, feliĉa pro la temo por mia proksima rakonto. Nur tiam mi memoris, ke mi eĉ ne fumas. 

Brakume via,

PPN


sexta-feira, 14 de agosto de 2020

ABRAÇO DE URSO/ BRAKUMO DE URSO

 bynina: "Pequeno Dicionário Ilustrado de Expressões Idiomáticas"

[Nota: Como tradição, Papos Nascentes publica textos bilíngues. Dessa vez, porém, não consegui a esperantização. Você conseguiria, leitor(a)?]

     O namorado soltou a franga e ela ficou com um grilo. Não era a primeira vez. Nem por isso cantou de galo, mesmo pagando mico, não ia pagar o pato. Podia soltar os bichos, mas sossegou a periquita, já fazia muito tempo que nem afogavam o ganso: aquele amor andava a passos de tartaruga. A dúvida era um fato: você é um homem ou um rato?

    Mesmo com a faca e o queijo, vinha cortando um dobrado. Estava escrito na testa: peru de fora não se manifesta! Então, fez boca de siri. Já não tinha qualquer mágoa. Onde amarrei minha égua? Resolveu dar uma trégua e, aproveitando o ensejo, foi nadar no rio Tejo: a vaca já foi pro brejo.

    Mas, quando ele deu as caras ela ficou uma arara. Parece até que teve febre, nunca mais se prestaria a comer gato por lebre. Quando a saudade bateu foi aquele estardalhaço. Mesmo assim... partiu pro abraço!

***********

[Rimarko: Tradicie, Papos Nascentes publikigas dulingvajn tekstojn. Ĉifoje, tamen, mi ne sukcesis la esperantigon. Ĉu vi, leganto?]


quarta-feira, 12 de agosto de 2020

ARTO KAJ BONFARTO/ ARTE E BEM ESTAR

 A arte literária: Revise os gêneros literários! - Blog do Enem

Paulo P Nascentes[i]

Kiamaniere tiu kvaranteno povos helpi nin pliboniĝi? Ĉu estas ia rilato inter Arto kaj bonfarto? Kia? Ĉu sano persona, sed ne socia, ekzistas? Ĉu sano korpa, sed ne mensa? La individuiga proceso[1] estas ĉu individua aŭ kolektiva? Ĉu sano, same kiel la vivo mem, ne estas plurdimensia? Kiel rolas la spirituala dimensio rilate al sano? Kiel rolas Arto – kia Poezio, ekzemple – por onia bonfarto? Pluraj pensuloj interkonsentas pri la graveco de ampla vizio, vivosenco, imagopovo dum la apero, malapero kaj reakiro de sano! Niaflanke la ekzameno koncernu la implican interrilaton de la terminoj de nia titolo, helpe de fakuloj. Sugestas la Necerteca Principo de Heisenberg[2], ke Mistero certe daŭros.

Alvenanta el la greka diaĵo nome Psiĥo, laŭ scioj de hermaj antikvaj tradicioj de Grekujo kaj Egiptujo, la Smeralda Tabulo[3] listigas sep principojn: I. Mensismo, II. Respondeco, III. Vibro, IV. Polareco, V. Ritmo, VI. Kaŭzo kaj Efiko, VII. Genro. Ni revenos al ili. Latine Psiĥo estas Animo, nia nemateria kontraŭparto. Carl Gustav Jung, kuracisto, antropologo, esploristo, kreinto de la Analiza Psikologio, trinkis el fontoj kiaj Hermesismo, Alĥemio, Filozofio de la Antikva Ĉinujo. Konceptoj pri psiĥa energio, konscienco, individua kaj kolektiva nekonscienco, ombro, komplekso, egoo, persono, arĥetipo, Si mem (Self) influas en la individuiga proceso. Kio estas tio?

Unue ni pensu pri bebo, vivanta esto dependa de la patrino, tute ne konscia pri si mem, pri sia ekzisto aparte de ia ĉirkaŭanta tutaĵo. Nur iom-post-iom ĝi ekkonscios pri io tia kia la patrino. Eĉ post la apero de la parola lingvaĵo, infano mencias pri si mem kiel "bebon", aŭ uzas sian propran nomon. “Mi” estas pronomo aperonta poste en frazoj menciantaj tiun, kiu parolas kontraste la ceterajn parolantojn. Individuigo estas fariĝi konscia pri tiu, kiu vere oni estas. Tio implikas ian lumigon pri nekonataj, rifuzitaj, malakceptitaj kaj ombraj partoj de oniaj spertoj. Estas psiĥaj enhavoj, kiujn la komplekso de la egoo ne volas vidi, cele eviti la konfronton ne nur kun la ombro “strictu senco” sed ankaŭ kun kreivaj partoj same retenitaj dum la kultura, socia, eduka proceso. “Ĉio kion la homa spirito kreis ŝprucis el enhavoj, kiuj, lastanalize, estis nekonsciaj ĝermoj.” (Jung, 2013, p. 321). Li klarigas, ke “al tiu sfero de nia psiĥa heredaĵo mi nomis kolektivan nekonsciencon”. (Ibid.). Individuiga proceso signifas do konfronti kaj integri en la konsciencon nekonsciajn ombrajn enhavojn, maskojn aŭ personojn tra kiuj ni fariĝas socie konataj. Individuigo tamen havas flankon socian kaj komunuman. Nur kune kun la ceteraj homoj ĝi okazas.

Kiam Jung avertas, ke ĉiuj niaj spertoj estas psiĥaj eventoj, do mensaj, rimarkindas la kongruo al la hermesa unua principo, nome Mensismo, laŭ kiu “la Tuto estas Menso, la Universo estas Menso”. La dua principo, Respondeco, asertas, ke “ĉio, kio estas supre estas kiel tio, kio estas malsupre, kaj tio, kio estas malsupre, estas kiel tio, kio estas supre”. Fakte estas kompletiga kaj komplementa la rilato inter konscienco kaj nekonscienco, anima kaj animus, principoj respektive ina kaj maskla de la psiĥo. Same do rolas la principoj de Vibro, Genro kaj Polareco. Analogio ekzemple ekestas kiel principo en metaforo kaj simbolo. Elvenintaj el profundaj tavoloj de nekonscienco, ĝenerale alireblaj tra sonĝo, kreiva imago, simbolaj asocioj, Arto mistere eniras nian konsciencon kiel esprimpovon pri neesprimeblaĵoj! Jen ĉi tie eble la kerno de la poeziverkado: diri nedireblaĵojn! Poezio ĉioepoka estas tiom grava por popoloj kaj civilizoj, ke grandaj poetoj donacas siajn proprajn nomojn al la historia lingvo de tiu poeziumado. Ne hazarde do la portugala lingvo nomiĝas lingvo de Kamono; lingvo de Danto estas la itala; lingvo de Cervanto, la hispana kaj la angla nomiĝas lingvo de Ŝekspiro. Pri poezio tamen priparolu la meksika poeto kaj teoriisto Octavio Paz, diversaj poetoj kaj precipe tiuj, kiuj paroligas Poezion por paroli pri ĝi mem, jen la tielnomata metapoezio.

Sen la pretendo fermi la aferon, Jung (2018) klarigas, ke la sekreto da arta kreado konsistus la merĝigon la “originan kondiĉon de la participation mystique”. Kaj li aldonas, ke en “tiu plano ne estas plu la individuo, sed la popolo, kiu vibras pro la spertoj”. Reliefigas li do la rolon de la kolektiva nekonscienco en la arta produktado.

Siavice, Paz (2015), en la ĉapitro “Signoj en rotacio”, komprenigas nin pri la moderna koncepto pri Poezio kaj la rolo de la poeto en la nuntempa socio: pro la historiaj kondiĉoj, restas al la Poezio hodiaŭ precipe metalingva sinteno. Tial nuntempe tiom da metapoemoj ekestas. Pri la nuntempa liriko Paz asertas:

                                          La poezio estas la riveligo de la homa kondiĉo kaj la konsekro de konkreta historia sperto. La modernaj romano kaj teatro sin apogas en sia epoko, eĉ kiam ĝin neas. Dum tiu neado ili ĝin konsekras. La destino de la liriko estis diversa. Mortintaj la antikvaj diaĵoj, kaj la propra objektiva realaĵo neata, la poemo havas nenion plu por kanti, escepte sian propran eston. La poeto kantas la kanton mem. Sed la kanto estas komuniko. Al la monologo ne povas sekvi alia afero ol la silento, aŭ aventuro inter ĉiuj malpreparata kaj ekstrema: la poezio ne plu enkarniĝos en la vorto, sed ja en la vivo. La poezia vorto ne konsekros la historion, sed estos historio, vivo. (p. 74).

        Tio okazas kvazaŭ la lirika poeto sin sorbiĝus je nova misio, aŭ sin atribuu novan taskon dum la alfronto al la realo de sia tempo. Bona klariga ekzemplo pri metapoemo estas tiu de la gaŭĉa poeto Mario Quintana:

                                  Poemoj estas birdoj alvenantaj/ oni ne scias de kie kaj eksidas/ sur la libro kiun vi legas.// Kiam vi fermas la libron, ili ekflugas/ kvazaŭ de plank-pordo.// Ili ne havas rifuĝejojn/ nek havenon;/ momente ili sin nutras en ĉiu/ manparo kaj foriras.// Kaj do vi rigardas tiujn viajn malplenajn manojn,/ je l' rava surprizo scii,/ ke ilia nutro estis jam ene de vi. (Quintana, 1983).

        Abundas simboloj. “Birdoj”, “ekflugo”, “haveno” simbolas liberon. Rava surprizo iel samas. La imagoj kaj metaforoj sugestitaj de la poemo, ĝian originon, destinon daŭras mistero, ĉar ili alvenas el la nekonscienco – persona kaj kolektiva. Sed, kiam ili tuŝas la subjektivecon de la leganto ekvidiĝas, ke ilia nutro jam estis en ŝi/li. Do ili enestas la nekonsciencon de la poeto, de la leganto. La kolektiva nekonscienco inkludas la poeton, leganton, tempospiriton ilian kaj de estontuloj. Cele al malvualo de la mistero, aliaj poetoj sekvos per aliaj nesatigaj formuloj por liberigi el la anima kaptilo birdojn. Nekontrolitaj, tamen, birdoj daŭre ekflugos, senhalte, senhavene. Surprize estas, ke ordinaraj ĉiutagaj verbaj signoj, uzataj dum komerca, proza, utiliga konversacio, akiras statuson de arto ĉemane de kreivaj poetoj kiaj Drummond, Fernando Pessoa, Manuel Bandeira, kelkaj el ni, kiuj el tiuj vortoj igos poezian signon. El kie devenas tiu poezieco kiu nin atingos kiel pripensojn, memorojn, revojn, fantaziojn, eble memkonon kaj memtransformon?

Se tiu menciita poezifarado iel influas aŭ ne en nia individuiga proceso decidu mem la leganto. Fakto estas, ke al la plejparto de poetoj, faras neniun sencon ne verki ion tiam, kiam nekonata komplekso aŭ malsuspekta arĥetipo, kia tiu de demiurgo, nin kaptas kaj ĵetas sur la misteran sinon de tutpova kreadopovo.

          Permeson mi petas por provizore konkludi ĉi tiun artikolon instigante al samtema pripenso aliajn poeziemulojn: bv. priverki ankaŭ vi. Kial ne? Jen poemo rikoltita el mia dulingva blogo https://paposnascentes.com.                    

POEMO DE LA VERKADO

verkas mi pro tiu mallum'/ do mi lumas/ verkas mi pro nesci'/ do mi nomumas/ verkas mi kaŝite/ sub noktohaŭt'/ do mi prifosas jukas ĉasas/ vortojn poemon imagojn/ verkas mi pro via instigo/ per viaj legadoj/ al freŝaj esprimtorturoj/ verkas mi ĉar min kuracas/ la vorto ties serĉo kaj kulturo/ verkas mi ĉar inventas min/ la inventado de mi teksata/ kaj jen mi/ Aŭtoro de mia disa eldiro:/ ombro sufokata ĉiuverse/ verkas mi finfine pro la volo/  surprizigi dum ebla legado/ la kialon de ĉi liberigo/ plu min sklavigi/ verki verki verki senfine/ per furioza memkavado.

        Referaĵoj

        JUNG, C. G. A natureza da psique. Trad. Mateus Ramalho Rocha. 10 ed.  Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

            ­­­________. A energia psíquica. Trad. Maria Luiza Appy. 14 ed. 7ª reimpr. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017.

         _________. O espírito na arte e na ciência. Trad. Maria de Moraes Barros. 8 ed. 9ª impr. Petrópolis: Vozes, 2018.

         NASCENTES, P. P. https://paposnascentes.com/2012/04/poema-do-escrever.html#links. Aliro la 8an de aprilo 2020.

         PAZ, O. Signos em rotação. Trad. Sebastião Uchoa Leite. Org. e rev. Celso Lafer e Haroldo de Campos. São Paulo: Perspectiva, 2015.

         QUINTANA, M. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.

         TRÊS INICIADOS. O Caibalion: estudo da filosofia hermética do antigo Egito e da Grécia. Trad. Rosabis Camaysar. 22ª impr. São Paulo: Pensamento: Cultrix, 2015.



[1] Iĝi konscia pri ĉiu persona kaj kolektiva nekonscia enhavo, manifesti la instancon nome Si mem (Self) aŭ Tutecon, t.e., la Imago Dei.

[2] Ĝi asertas, ke neeblas samtempe scii kaj la percizan pozicion kaj la movokvanton de partiklo. La principon unue eksciis Wolfgang Pauli per letero de Werner Heisenberg en februaro 1927.

[3] Cf.: TRÊS INICIADOS: 2015.



[i] Emerita profesoro (IL/UnB), pedagogo, poeto, terapeŭto, profesia vojaĝanto

************

De que maneira essa quarentena poderá nos ajudar a melhorar? Haveria alguma relação entre Arte e bem estar? De que tipo? Saúde pessoal, mas não social, existe? Saúde corporal, mas não mental? O processo de individuação[1] é individual ou coletivo? Saúde, assim como a vida mesma, não é pluridimensional? Qual o papel da dimensão espiritual em relação à saúde? Qual o papel da Arte – como a Poesia, por exemplo – no nosso bem estar? Vários pensadores concordam sobre a importância da visão ampla, do sentido da vida, do poder da imaginação no aparecimento, desaparecimento e reaquisição da saúde! De nossa parte o exame vai tratar relação implícita dos termos do nosso título, com a ajuda de especialistas. O Princípio de Incerteza de Heisenberg[2] sugere que o Mistério na certa continuará.

Proveniente do nome da deusa grega Psique, conforme a sabedoria das antigas tradições herméticas da Grécia e do Egito, a Tábua de Esmeralda[3] lista sete princípios: I. Mentalismo, II. Correspondência, III. Vibração, IV. Polaridade, V. Ritmo, VI. Causa e Efeito, VII. Gênero. Voltaremos a eles. Em Latim Psique é Alma, nossa contraparte imaterial. Carl Gustav Jung, médico, antropólogo, pesquisador, criador da Psicologia Analítica, bebia de fontes como Hermetismo, Alquimia, Filosofia da China Antiga. Conceitos de energia psíquica, consciência, inconsciente pessoal e coletivo, sombra, complexo, ego, persona, arquétipo, Si mesmo (Self) influenciam no processo de individuação. O que é isso?

Pensemos primeiro no bebê, um ser vivo dependente da mãe, totalmente inconsciente de si mesmo, de sua existência separada de qualquer coisa ao redor. Só pouco a pouco ele começará a perceber a mãe. Mesmo depois do aparecimento da língua falada, a criança se refere a si mesma como "bebê ou neném", ouusa seu nome próprio. "Eu" é um pronome que aparecerá depois nas frases que mencionam aquele que fala em contraste com os demais falante. Individuação é se tornar consciente sobre quem de fato somos. Isso implica lançar alguma luz sobre partes em nós desconhecidas, recusadas, não aceitas e sombrias. São conteúdos psíquicos que o complexo do eu não quer ver para evitar o confronto não só com a sombra, stictu senso, mas também com partes criativas igualmente retidas durante o processo cultural, social, educativo. “Tudo o que o espírito humano criou jorra de conteúdos que, em última análise, eram gérmen inconsciente.” (Jung, 2013, p. 321). Ele esclarece que “a essa esfera de nossa herança psíquica chamei de inconsciente coletivo”. (Ibid.). O processo de individuação significa então confrontar e integrar na consciência conteúdos sombrios, máscaras ou personas por meio das quais nos tornamos socialmente conhecidos. A individuação tem ainda um lado social e comunitário. Só em conjunto com as demais pressoas ela acontece.

Quando Jung adverte que todas as nossas experiências são eventos psíquicos, portant, mentais, pode-se notar a congruência com o primeiro princípio hermético, ou seja, o Mentalismo, segundo o qual “o Todo é mente, o Universo é Mente”. O segundo princípio, Correspondência, afirma que “tudo o que está em cima é como o que está embaixo, e tudo o que está embaixo é como o que está em cima”. De fato, a relação entre consciente e inconsciente é oposta e complementar, anima e animus, princípios respectivamente feminino e masculino da psique. De igual modo são os princípios de Vibração, Gênero e Polaridade. Analogia, por exemplo, funciona como base na metáfora e no símbolo. Vindas de profundas camadas do inconsciente, geralmente acessíveis por meio dos sonhos, da imaginação criativa, de associações simbólicas, a Arte misteriosamente entra em nossa consciência como poder de exprimir o inexprimível! Eis aqui o cerne da produção poética: dizer o que é indizível! A Poesia em todas as épocas é tão importante para os povos e civilizações, que grandes poetas emprestam seus nomes à língua história em que fazem seus poemas. Não por acaso, portanto, a língua portuguesa se chama língua de Camões; língua de Dante é o italiano; língua de Cervantes, o espanhol e o inglês se denomina língua de Shakespeare. Sobre poesia nos fale ainda o poeta e teórico mexicano Octavio Paz, diversos poetas e principalmente aqueles que dão voz à Poesia para que fale sobre si mesma, eis a chamada metapoesia.

Sem a pretensão de fechar a questão, Jung (2018) esclarece que o segredo da criação artística consiste no mergulho na "condição original da participation mystique”. E acrescenta que "nesse plano não é mais o indivíduo, mas o povo que vibra por causa das experiência”. Destaca o papel do inconsciente coletivo na produção artística.

Por sua vez, Paz (2015), no capítulo “Signos em rotação”, nos faz compreender o moderno conceito de Poesia e o papel do poeta na sociedade contemporânea: pelas condições histórica, resta à Poesia hoje principalmente uma atitude metalinguística. Por isso na contemporaneidade existem tantos metapoemasSobre a poesia lírica atual Paz afirma:

                                          A poesia é a revelação da condição humana e a consagração de uma experiência histórica concreta. O romance moderno e o teatro se apoiam em sua época, mesmo se a negam. Durante essa negação eles a consagram. O destino da lírica foi diversa. Mortos os antigos deuses, e negada a própria realidade objetiva, o poema não tem mais nada para cantar, com exceção do seu próprio ser. O poeta canta o canto mesmo. Mas, o canto é comunicação. Ao monólogo não pode se seguir outra coisa que o silêncio, ou uma aventura entre todas despreparada e extrema: a poesia não mais se encarnará na palavra, mas sim na vida. A palavra poética não consagrará a história, mas será história, vida. (p. 74).

        Isso ocorre como se o poeta lírico se deixasse absorver por nova missão, ou se atribuísse nova tarefa durante o confronto com a realidade de seu tempo. Bom exemplo esclarecedor de metapoema é esse do poeta gaúcho Mario Quintana:

                                  Os poemas são pássaros que chegam/ não se sabe de onde e pousam/ no livro que lês.// Quando você fecha o livro, eles alçam voo/ como de um alçapão.// Eles não têm pouso/ nem porto;/ alimentam-se um instante em cada par de mãos/ e partem.// E olhas, então, essas tuas mãos vazias,/ no maravilhado espanto de saberes,/ que o alimento delas já estava em ti... (Quintana, 1983).

        Abundam símbolos. “Pássaros”, “alçar voo”, “porto” simbolizam liberdade. Uma surpresa maravilhosa e de algum modo semelhante. As imagens e metáforas sugeridas pelo poema, sua origem, destino permanecem um mistério, pois eles vêm do inconsciente – pessoal e coletivo. Mas, quando tocam a subjetividade do leitor estes vislumbram que o alimento já estava nele. Portanto, estão no inconsciente do poeta, do leitor. O inconsciente coletivo inclui poeta, leitor, o espírito do tempo deles e dos seres vindouros. Com vistas ao desvelamento do mistério, outros poetas irão, por outras fórmulas insatisfatórias, libertar da prisão da alma pássaros. Incontroláveis, porém, pássaros continuarão a alçar voo, sem pouso, sem porto. Surpreendente é que signos verbais comuns da vida cotidiana, usados na conversação comercial, prosaica, utilitária, adquirem um status de arte nas mãos de poetas criativos como Drummond, Fernando Pessoa, Manuel Bandeira, alguns de nós, que dessas mesmas palavras fazem signos poéticos. De onde vem essa poeticidade que nos atingirão como meditações, memórias, sonhos, fantasias, quiçá autoconhecimento e autotransformação?

Se esse mencionado fazer poético de algum modo influencia ou não em nosso processo de individuação decida leitor mesmo. O fato é que para a maior parte dos poetas não faz qualquer sentido não escrever algo quando um complexo desconhecido ou um insuspeito arquétipo, como o do demiurgo, nos captura e joga no seio misterioso da todopoderosa força da criação.

          Peço permissão para concluir provisoriamente este artigo incentivando à meditação sobre o mesmo outros que gostam de fazer poemas: favor escrever você também. Por que não? Eis poema colhido no meu blogue bilíngue https://paposnascentes.com.                    

POEMA DO ESCREVER

escrevo porque escuro/ então clareio/ escrevo por não saber/ então nomeio/ escrevo porque oculto/ sob a pele da noite/ então escavo coço caço/ palavras poemas imagens/ escrevo porque me instigas/ com suas leituras/ novas torturas do expressar/ escrevo porque me cura/ a palavra e sua lavra e procura/ escrevo porque me inventa/ a invenção que teço/ e aconteço/ Autor do meu dizer disperso:/ sombra sufocada em cada verso/ escrevo enfim porque tô a fim/  de surpreender nas possíveis leituras/ o porquê dessa libertação/ me fazer mais escravo do escrever/ escrever escrever escrever enfim/ com a fúria do me escavar.

        Referências

        JUNG, C. G. A natureza da psique. Trad. Mateus Ramalho Rocha. 10 ed.  Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

            ­­­________. A energia psíquica. Trad. Maria Luiza Appy. 14 ed. 7ª reimpr. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017.

         _________. O espírito na arte e na ciência. Trad. Maria de Moraes Barros. 8 ed. 9ª impr. Petrópolis: Vozes, 2018.

         NASCENTES, P. P. https://paposnascentes.com/2012/04/poema-do-escrever.html#links. Aliro la 8an de aprilo 2020.

         PAZ, O. Signos em rotação. Trad. Sebastião Uchoa Leite. Org. e rev. Celso Lafer e Haroldo de Campos. São Paulo: Perspectiva, 2015.

         QUINTANA, M. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.

         TRÊS INICIADOS. O Caibalion: estudo da filosofia hermética do antigo Egito e da Grécia. Trad. Rosabis Camaysar. 22ª impr. São Paulo: Pensamento: Cultrix, 2015.



[1] Tornar-se consciente de cada persona e cada conteúdo do inconsciente coletivo, manifestar a instância do Si mesmo (Self) ouTotalidade, isto é, a Imago Dei.

[2] Afirma ser impossível saber ao mesmo tempo a posição precisa e a direção do movimento de uma partícula. Wolfgang Pauli tomou contato com o princípio por carta de Werner Heisenberg em fevereiro de 1927.

[3] Cf.: TRÊS INICIADOS: 2015.



[i] Professor emérito (IL/UnB), pedagogo, poeta, terapeuta.