sábado, 5 de dezembro de 2020

CHINA OFFICINALIS

 
"Como um animal que sabe da floresta". Gonzaguinha.

Como se fora brincadeira de roda, salta livre, silencioso e g(r)ato o tigre da memória de invólucro antigo, transgeracional, enorme no meu sonho ancestral. Reina a soberania da ofuscante totalidade. Movimento lento em minha direção. Como que me atravessa o tigre, me constitui e sussurra sabedorias de floresta e cativeiro. Justa distância pára e espera. Começa o diálogo - olhos, silêncio, respeito. Devolvo-lhe o respeito: em lótus me sento e sinto o orvalho. O gramado sabe não sermos da cadeia alimentar do tigre. Tampouco ele da nossa. Surpreso, também se acomoda, um olho na conversa e outro na caça premente e improvável. Adivinho-lhe a sede. Não ainda a hora de levar-lhe a frescura das gotas de chuva. Abundância e inteireza dialogam. Outras palavras, símbolos exalados.


Vivente e exata, a verdade em sua natureza felina explode beleza rajada em laranja e ocre. O poder das garras na jugular da presa afirmava bondade, justiça. Aos filhotes o melhor bocado! Olhar patético e sincero me garantia: amor incondicional o propósito de tigre. Natureza e harmonia, a vida degusta a vida em comunhão com Gaia. Lei cósmica se cumpre e me pergunta sem rodeios: que parte do corpo toma o cálice rubi de vinho dessa aprendizagem? 


Nenhuma hesitação precede o vazio do pulo, alvo quase manifesto. O alvo foge quadrúpede, inútil, já atingido. Plena percepção. Coração antevê banquete e júbilo. Tudo celebra a festa do Self a devorar sombras, complexos, medos malsabidos. Agora, só sabor, sorriso, sacações soltas, sadias.   


Kvazaŭ rondoludo, libera, silenta, danka saltas la tigro el memoro pri antikva ingo transgeneracia, enorma al mia papatra sonĝo. Regas suvereneco de duon-blindiga tuteco. Lanta movo en mia direkto. Kvazaŭ min trapasu, la tigro min konsistigas, flustras saĝecojn de arbaro kaj sklaveco. Just-distance ĝi atende haltas. Komenciĝas dialogo - okuloj, respekto, silento. Redonas mi al ĝi la respekton: laŭlotuse sidiĝas mi, la rocion sentas. Scias la greso: ni ne apartenas la manĝoĉenon de tigroj. Same nek li la nian. Surpriza, ankaŭ ĝi akomodiĝas, okulo surbabile, alia sur prema kaj malprobabla ĉasaĵo. Divenas mi ĝia soifo. Ne ankoraŭ la momento porti al ĝi la freŝecon de pluvogutoj. Abundo kaj tuto dialogas. Aliaj vortoj, elspiritaj simboloj.


Vivanta kaj trafa, la vero en felisa naturo eksplodas oranĝ-okre miksita beleco. La povo de la ungegoj sur la jugulara vejno de ĉasaĵo asertis pri boneco, justico. Al la idoj la plej bongustan peceton! Patosa kaj sincera rigardo garantias min esti senkondiĉa amo la tigra intenco. Naturo kaj harmonio, vivo frandis vivon kunece kun Geo. Kosma leĝo plenumiĝas kaj min tuj demandas: kiu korpoparto drinkas la ruben-koloran vino-kalikon de tiu lernitaĵo? 


Neniu hezito antaŭ la salto-malpleno sur manifestiĝonta celo. Kvarpieda, senutila, forfuĝas la antaŭtrafita celo. Plena percepto. La koro antaŭvidas bankedon kaj ĝojegon. Ĉio celebro dum la festeno de Self, voranta ombrojn, kompleksojn, malsuspektajn timojn. Nun, nur gusto, rideto, liberaj, sanaj perceptetoj.

7 Comentários:

Às 7 de janeiro de 2021 às 23:26 , Blogger Lírica disse...

Que texto!
O temor dando lugar ao respeito, a admiração, a construção do saber.
Maravilhoso se os países pudessem fazer essa leitura uns para com os outros.
Parabéns, Paulo!

 
Às 8 de janeiro de 2021 às 07:40 , Blogger Blogdopaulo disse...

Vivi estas ja kunvivi kun tigro!

 
Às 8 de janeiro de 2021 às 07:40 , Blogger Blogdopaulo disse...

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Às 8 de janeiro de 2021 às 12:30 , Blogger PaPos Nascentes: Paulo P Nascentes disse...

Koran dankon!

 
Às 8 de janeiro de 2021 às 12:37 , Blogger Nazaré Laroca disse...

Leginte vian belegan kaj transcendan tekston, pluvon da poezia paco falis sur mian koron! Dankon, poeto Paulo Nascentes!

 
Às 8 de janeiro de 2021 às 12:38 , Blogger Nazaré Laroca disse...

Mistajpaĵo: .... pluvo....

 
Às 8 de janeiro de 2021 às 22:44 , Blogger PaPos Nascentes: Paulo P Nascentes disse...

Dankon, poeto Nazaré!

 

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